segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Bullying explicado a uma mãe


As preocupações disparam a cada caso mediatizado. “De repente, parece que dar um estalo a um amigo ou outras tolices de quando somos pequeninos é tudo bullying, mas não é!”, explica Eduardo Sá.

Andreia Lobo  Educare.pt

Muito se tem falado e escrito sobre casos de bullying na escola. Histórias de rapazes e raparigas que passam horrores nos recreios. E até mesmo na sala de aula. Dramas que preocupam qualquer progenitor. Clara, chamemos-lhe assim, tem três filhos em idade escolar. Como tantos pais, acredita que sabe o suficiente sobre o tema: “São atos de violência cometidos entre crianças ou jovens de forma repetida.” 

O que leu na Internet e viu na televisão “chega e sobra para estar preocupada”, escrevia num email dirigido ao EDUCARE.PT, onde apesar de tudo pedia mais informações sobre como “prevenir” o bullying

Quando os filhos, de 7, 10 e 15 anos, chegam da escola, Clara faz uma espécie de prospeção aos “miúdos”. Feridas sem explicação. Rasgões na roupa, nos livros, nos cadernos. Sonda por queixas sobre os amigos ou colegas de turma. Atenta a qualquer descida das notas. Ao sobe e desce da motivação em relação à escola. E o seu alarme de mãe está pronto a tocar face a eventuais estados de tristeza, isolamento, falta de apetite, dores de barriga ou problemas em adormecer. 

A conversa com Clara coincide com os relatos de um caso de bulliying bastante mediatizado. Pelos programas de televisão matinais passam psicólogos, pediatras e outros especialistas que vão dando conselhos a pais e educadores. Enquanto fala ao EDUCARE.PT, a mãe admite algum “alarmismo”: “Procuro pelos tais sinais de que algo possa estar a acontecer”, desculpabiliza-se.  

A maior inquietação é tentar perceber, “no meio de tanta opinião”, como pode “verdadeiramente” proteger os filhos? Conseguir evitar que sejam vitimas de um desses episódios de violência que parecem fazer parte do dia-a-dia em tantas escolas. 
Remetemos a questão ao psicólogo Eduardo Sá que, numa conversa com o EDUCARE.PT, respondeu a algumas perguntas colocadas por leitores do portal, entre os quais se inclui Clara. 

“Não me canso de chamar a atenção que o lado mais bonito das mães é quando fazem de leoas, são tão intimidantes na sua capacidade de agressão que qualquer um de nós pode virar um ratinho de laboratório”, começa por dizer o psicólogo. Clara, seguramente se sentirá neste papel ao cuidar que as crias não sejam vitimas de bullying. “Em primeiro lugar, ajude-os a aprender a agredir”, atira Eduardo Sá, preparando-se para dissipar qualquer olhar de espanto. 

“Claro! Porque crianças “choninhas” são crianças doentes. As crianças têm de aprender a dar encontrões, a “limpar o pó” a alguém, a dar caneladas e a chocar de frente com alguém para que depois, à medida que crescem e se tornam crescidas, sejam capazes de agredir com lealdade.” 

Em segundo lugar, continua Eduardo Sá, é preciso “não falar do bullying como se fosse uma epidemia atípica”. Evitar alguns exageros passíveis de causar alguma contrainformação. “De repente parece que dar um estalo a um amigo ou outras tolices de quando somos pequeninos é tudo bullying, mas não é!” O bullyingé um exercício de violência repetido, sem reparação. O bullie, ou seja, quem agride desta maneira, “magoa e não faz nada por consertar os estragos”, explica Eduardo Sá, acrescentando que muitos dos agressores “são meninos muito doentes”. 

Em terceiro lugar, desmistifica Eduardo Sá, os pais não podem pensar que se os filhos não falam, nem contam nada sobre o seu dia-a-dia, é porque está tudo bem. “É importante que os pais percebam que quando os filhos chegam a casa fechados sobre si próprios, parecem mais ou menos aluados um dia atrás do outro e, basicamente, estão muito deprimidos, é porque alguma coisa grave se passou na escola.”   

Perceber que algo não está como deveria estar implica que os progenitores confiem no seu sexto sentido. “O maior património dos pais é o dedo que adivinha, portanto, quando farejarem que alguma coisa está fora do lugar, força!” 

A suspeita que uma criança ou jovem é vítima de bullying tem de desencadear um processo de tentar perceber o que se passa. Os pais devem ir ao estabelecimento de ensino para conversar com os professores. “Se fizermos isto deixamos de andar a imaginar que o bullying é uma epidemia atípica, que é um pouco o dia-a-dia de todas as escolas”, conclui o psicólogo.

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