Hoje, bibliotecário do Superior Tribunal de Justiça, Cristian Santos é um acadêmico premiado e tem um livro concorrendo ao prêmio Jabuti
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Reprodução/ Facebook
Cristian Santos posa em lançamento de seu livro, "Devotos e Devassos"
Cristian Santos poderia ter se tornado um homem que apenas sobrevive, caso tivesse caído em um caminho que perpetuasse as condições de miséria nas quais cresceu. Nas suas próprias palavras, porém, o estímulo e exemplos que sempre recebeu em casa o levaram a sonhar mais alto e conquistar seu lugar ao sol. Quando criança e adolescente, vendeu cocadas para conseguir adquirir o que o salário de pedreiro de seu pai não permitia. Hoje, bibliotecário do Superior Tribunal de Justiça em Brasília, e acadêmico premiado internacionalmente, Santos é concorrente ao prêmio Jabuti de literatura, por tese de doutorada que virou livro, e tem no currículo cinco graduações.
O pão com manteiga do dia anterior, amassado entre os livros, como relata matéria do G1, hoje está apenas na memória, mas representa um tempo de grandes dificuldades na vida de Santos. “Fui vítima de bullying escolar pelo tênis velho, por não ter mochila e pelo fato de o meu pai ser pedreiro. Era uma crueldade absurda. Recordo-me, dessa mesma época, ter sido motivo de chacota por parte de meus colegas de turma ao descobrirem que levava um pãozinho francês amanteigado, prensado entre meus livros. Era minha refeição a ser devorada no recreio, já que não tinha dinheiro para a lanchonete”, falou ao site supracitado.
A venda de cocadas começou na infância e foi ideia de sua mãe. Aos sete anos de idade, Cristian Santos era o único na turma a não ter o uniforme, e por isso precisou pegar uma camiseta emprestada de um colega para participar da foto de final de ano na escola. Esse quadro de pobreza fez a mãe do garoto arrumar uma solução para amenizar a situação. Assim, começou a preparar cocadas para Santos vender na vizinhança. Os ganhos serviam para comprar mais cocos, verduras em oferta e o passe escolar.
No ensino médio, ele foi discriminado por sua situação financeira. Chegou a ser barrado na escola por causa do uniforme velho. Com uma semana de vendas intensas da cocada, conseguiu adquirir a farda nova. Seu refúgio contra a discriminação e as chacotas dos colegas sempre foi a biblioteca. O amor pela leitura o salvou de uma vida de lamentos e o introduziu em um mundo de fantasia e possibilidades.
As cocadas de sua mãe o sustentaram durante a primeira graduação, biblioteconomia. Com os ganhos, Santos bancava as refeições no restaurante universitário, as fotocópias dos textos e as passagens de ônibus. Quando as vendas caíam, ele precisava andar à pé. Quando conseguiu um estágio, usou o dinheiro para um cursinho preparatório para técnico judiciário. Ao passar na seleção, deixou de vender cocadas e passou a ajudar no sustento da família.
Após concluir biblioteconomia, Santos foi aprovado em primeiro lugar no concurso do Superior Tribunal de Justiça para o cargo de bibliotecário, que ocupa até hoje. A partir daí, apresentou trabalhos em diversos países, e ingressou em outras graduações. Formou-se em língua e literatura francesas, e, mais tarde, em tradução. Estudou ainda filosofia e teologia, chegando a estudar no Canadá. Mestre em ciência da informação, sua dissertação recebeu prêmio internacional na Argentina. fez doutorado em literatura e práticas sociais, e sua tese foi transformada no livro que hoje concorre ao prêmio Jabuti em duas categorias: melhor crítica literária e melhor capa. "Devotos e Devassos" trata da representação de beatas e padres na literatura.
Diante de todas as conquistas, Santos reconhece nos pais o incentivo e bons exemplos que o levaram além. Ele descreve o pai como tendo "formação política invejável", apesar das dificuldades financeiras. A generosidade também nunca foi escassa em sua casa. Muitas vezes seus pais acolheram mendigos e pessoas em situação ainda mais difícil. “A pobreza não impediu que ambos fossem sensíveis ao sofrimento daqueles que eram ainda mais carentes de pão e de afeto", conta. Cristian Santos considera essenciais para seu sucesso a força e coragem de seus pais diante da vida e o incentivo que sempre lhe ofertaram."Não poderia alcançar mobilidade por mim mesmo. Somente virei a mesa porque fui estimulado", conclui.
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