Com 13 anos, o adolescente acima do peso e de óculos de grau teve de mudar de turma. No ano passado, precisou trocar de escola. O motivo: a perseguição constante que sofre dos colegas de classe, agravada pelo fato de ele ter transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), transtorno de conduta e um diagnóstico ainda não concluso de transtorno de bipolaridade.
Possivelmente também devido ao assédio constante, o jovem começou a ter problemas com notas baixas ao chegar, em 2015, ao 9.º ano do Ensino Fundamental. Na última segunda, o bullying lhe trouxe uma inédita consequência: um olho roxo, resultado de um soco desferido por um “colega” de classe, durante uma briga em uma escola estadual.
O caso foi registrado na Central de Polícia Judiciária (CPJ), mas este não foi o primeiro boletim de ocorrência que marcou a vida escolar do estudante, conforme conta a mãe. “No ano passado, ainda na outra escola, ele foi ofendido pela mãe de uma aluna com quem tinha discutido, mas acabei não levando o caso adiante”, observa.
A persistência do assédio sobre o jovem demonstra, segundo o professor e pesquisador sobre bullying Gustavo Baptista, como as escolas ainda estão despreparadas para lidar com o tema - e também com a inclusão escolar de crianças e jovens com algum tipo de necessidade educacional especial. “E é isso o que leva a casos como o deste adolescente, que vai fugindo do problema, trocando de escola, de turma e, mesmo assim, não consegue se adaptar em razão do assédio recorrente sobre suas condições físicas e psicológicas”.
‘No limite’
O caso envolvendo o adolescente de 13 anos parece ser apenas um entre tantos que, em boa parte das vezes, nem mesmo chegam a extrapolar os muros escolares. Segundo o registrado em boletim de ocorrência, o menino estava na sala de aula quando decidiu tirar satisfações com um grupo de alunos que caçoava dele.
Neste momento, um dos rapazes o teria agredido a socos, que atingiram um dos olhos e o abdômen da vítima. Descontrolado, a vítima tentou investir contra o grupo e, ao ser contida, derrubou cadeiras e carteiras. “Ele deve ter chegado, mais uma vez, ao limite”, avalia a mãe. Na escola, segundo o JC apurou, o estudante que agrediu o aluno negou a prática de bullying.
De acordo com a mãe, ainda ontem o filho foi examinado por um médico e seguirá sob tratamento psicológico e psiquiátrico, iniciado quando ele tinha apenas três anos de idade. A previsão é de que o estudante volte à escola ainda nesta semana.
Lamentou
Por meio de nota, a Diretoria Regional de Ensino de Bauru lamentou o fato e informou que a direção da unidade convocou os responsáveis pelos estudantes envolvidos e que todas as medidas serão tomadas seguindo o regimento. A pasta destacou ainda que o combate a casos como este precisa de “várias frentes de atuação, que englobam família, comunidade escolar e polícia”.
Entre as ações do Sistema de Proteção Escolar, a Secretaria de Educação do Estado oferece a figura do professor-mediador, que desenvolve estratégias preventivas e promotoras da cultura de paz, com o objetivo de aproximar as famílias para que atuem em parceria com as instituições. Polícia, Ronda Escolar, Conselho Tutelar e Ministério Público também são parceiros da Educação.
‘Escola precisa admitir que o problema existe’
O termo bullying surgiu há cerca de dez anos e, de lá para cá, as instituições de ensino vêm sendo provocadas a estabelecer medidas para combater a prática dentro do ambiente escolar. Mas o avanço neste sentido ainda caminha a passos lentos, segundo analisa o professor Gustavo Baptista, pesquisador sobre o tema. “As escolas precisam, primeiro, admitir a existência do bullying, porque ele existe, seja na rede pública ou particular. Ignorá-lo é contribuir para agravar o problema”, .
Segundo Baptista, o bullying é caracterizado por atos agressivos, verbais ou físicos, recorrentes e intencionais de alguns alunos contra um ou mais colegas.
Segundo o pesquisador, crianças e adolescentes submetidos a perseguições de maneira persistente correm risco de desenvolver doenças, como depressão, ou até mesmo sofrer um surto, caso já tenham doenças psiquiátricas preexistentes. “Em situações extremas, o bulliyng pode ser o gatilho até mesmo para o suicídio”.
O pesquisador lembra que a identificação do problema pode ser dificultada porque, em boa parte dos casos, os ataques não ocorrem publicamente. Nestes casos, é importante que os professores estejam preparados para observar os sinais das possíveis vítimas, como mudanças bruscas de comportamento e queda no rendimento escolar.
É preciso, ainda, estimulá-las a denunciar o assédio e debater o tema em sala de aula, incentivando a solidariedade, a generosidade e o respeito às diferenças por meio de conversas e atividades em sala de aula.
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