quinta-feira, 30 de julho de 2015

Pai preso, abusos, bullying: pugilista nocauteia a dor para seguir no topo

Fenômeno da atualidade, Claressa Shields superou dramas e foi campeã olímpica aos 17 anos. Após Rio 2016, quer se profissionalizar para virar uma ''Mayweather''


Por Toronto, Canadá

O roteiro de filme começa com uma criança indo visitar o pai na prisão. Claressa não tinha mais de nove anos e não entendia o motivo que mantinha ''seu herói'' ali. Nascida e criada em Flint, Michigan, a cidade mais violenta de todo os Estados Unidos, viu seu pai, Bo Shields, ficar alguns anos recluso por vender drogas. Ao sair, foi difícil encontrar um emprego para bancar a família. Triste e com medo de cometer os mesmos erros, disse para a filha que, se fizesse algo por que fosse realmente apaixonado, não teria chegado naquela situação.
Com medo de ver o pai novamente com problemas, ela perguntou: ''Em que você é apaixonado?''. A resposta foi fácil: boxe. Ele tinha até tentando carreira, mas nunca funcionou. Nenhum dos dois sabia, mas aquela simples resposta abriria o caminho até um ouro olímpico. Aos 20 anos, Claressa Shields é a menina quem hoje entra nos ringues é considerada um fenômeno de sua modalidade e tenta o ouro no Pan de Toronto.
Flavia Figueiredo; boxe; Jogos Pan-Americanos; Claressa Shields (Foto: Saulo Cruz/Exemplus/COB)Flavia Figueiredo; boxe; Jogos Pan-Americanos; Claressa Shields (Foto: Saulo Cruz/Exemplus/COB)
- Ele me disse boxe. Se ele tivesse me dito corrida, provavelmente eu seria uma corredora agora. Se fosse basquete, a mesma coisa. Mas ele me disse boxe. Fui treinar para deixar meu pai viver o que sonhava através de mim. Eu sabia que podia lutar - disse Claressa.
A menina foi rápida. Lutava dia e noite. Lutava até quando não devia - respondendo o bullying que sofria na escola. Conseguiu a vaga para o time americano nas seletivas dos Jogos Olímpicos de Londres 2012 e, acredite, foi campeã olímpica com apenas 17 anos. Somente ali, quase no fim do filme, sentiu que tinha superado tudo que passou. Um dos assuntos mais delicados, que evita citar, foi quando chegou a ser abusada. Algo que confirmou à imprensa americana recentemente.
Nas quartas de final do Pan de Toronto, não houve surpresas. Claressa passou pela brasileira Flávia Figueiredo e já garantiu, ao menos, uma medalha de bronze na competição. Com um ouro olímpico na estante e apenas 20 anos, sonha em repetir a dose nos Jogos do Rio 2016. E só. Depois, já tomou a decisão de entrar para boxe feminino profissional. O motivo? Apenas o dinheiro. Mesmo tendo alcançado o topo, diz não receber endossos que outros atletas conseguem. Acha que pode e quer ganhar dinheiro, segundo ela mesma, como um Floyd Mayweather.
Claressa Shields campeã do peso-médio  (Foto: Agência Reuters)Claressa Shields campeã do peso-médio (Foto: Agência Reuters)
- Depois de Rio 2016, eu definitivamente quero me profissionalizar. Ainda não sei de que forma. Com sorte posso assinar com Alan Haymon (empresário de boxe) e me tornar uma lutadora milionária como Floyd Mayweather (risos). Mas eu objetivo acima de todos e é ser a maior lutadora da atualidade - diz a atleta. 
Encarar Ronda? Só no boxe
É o boxe profissional mesmo que lhe vem mente. Questionada se poderia seguir o exemplo da ex-judoca olímpica Ronda Rousey e tentar o estrelado no MMA, é direta ao dizer que não. Claressa não é fã do esporte. No entanto, brinca ao dizer que levaria a melhor se encarasse, em uma luta de boxe, a atual campeã peso-galo do UFC.
- Eu não entendo o esporte (MMA). Ronda é ótima no que faz. Eu sei como lutar boxe, não sei lutar no chão. Não é a minha. Na minha carreira profissional, se Ronda quiser tentar lutar boxe, podemos fazer um acordo. Eu sei que no boxe posso ganhar dela. No MMA não (risos) - completou.

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