sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Oficina de desprincesamento no RS: impressões sobre o que é ser menina ou ser princesa

Anita Piangers, 11 anos (Foto: Lauro Alves)
Anita Piangers, 11 anos (Foto: Lauro Alves)
“Isso é coisa de menino, isso é coisa de menina”: no ano passado, o anúncio da abertura de novas sedes da Escola de Princesas no Brasil reacendeu o debate sobre estereótipos de gênero. Em resposta aos cursos que ensinam etiqueta e técnicas domésticas, surgiram as chamadas “escolas de desprincesamento”.
A oficina pioneira, no Chile, já teve edições de iniciativas distintas em São Paulo e, em janeiro, no Rio Grande do Sul. A ideia do curso é promover a igualdade de gêneros e o empoderamento infanto-juvenil. Convidamos a jovem Anita, 11 anos, filha de Ana Cardoso e Marcos Piangers, autores dos livros A Mamãe é Rock e O Papai é Pop, para participar das 15 horas de curso e contar à revista Donna sua experiência.
O projeto, comandado pela educadora em sexualidade Lisiara Rocha, de Dois Irmãos, é direcionado a meninas de nove a 15 anos.

“Temos que ser nós mesmas”
Por Anita Piangers, 11 anos

Até meus seis anos de idade, alternava meus sonhos infantis entre “Hoje sou uma bailarina” e “Hoje eu sou uma princesa”. Sempre desejava algo no perfil frágil e delicado, ainda preocupada com o que os outros pensam de mim. Nunca era uma astronauta. Teve uma época até que eu andava vestida de noiva. E todos os meninos da sala queriam casar comigo.
Nem sempre fui tão romântica. Lá pelos quatro anos, botei na cabeça que eu era a Anita Garibaldi, que este era meu nome. Quando alguém perguntava meu nome, eu dizia: sou Anita Garibaldi. Minha mãe dizia que, quando eu crescesse, iria pra Laguna a cavalo. Meu pai até me levou na casa dela pra conhecer. Isso deu um nó na minha cabeça. Aqueles móveis antigos, amarrados com lençóis.
Uma coisa, no entanto, eu venho percebendo nos últimos anos. Por mais que eu gostasse de princesas, também tive outros incentivos e sonhos desde sempre. Eu queria ser a Lindinha das Garotas Superpoderosas, depois adorava imitar a Luluzinha falando sobre a vida, sonhava em trabalhar na Apple, no Google e penso seriamente em morar no Japão num futuro próximo. Faço muitos planos: quero trabalhar cedo, ter minha casa. Quando Aurora for adolescente e brigar com nossos pais, deixo ela dormir no meu apê.
Na semana passada, participei de um curso de desprincesamento. Já tinha ouvido falar muito. Muitas coisas me surpreenderam. Já no primeiro dia, várias meninas do curso contaram que tinham irmãos, por exemplo, e que a vida deles era bem diferente da delas. Os guris podiam sair mais, ficar só no videogame, jogar bola, andar de skate na rua, enquanto elas tinham que lavar louça, limpar a casa e não podiam sair. Eu pensei: “Como assim?”. Essa não é a minha realidade. Vi, então, que existem muitas realidades.
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Em outro momento, as meninas falaram sobre seus traumas e sobre os tipos de bullying que sofriam. Todas choraram muito (eu também estava bem triste com as histórias, mas sou mais durona e segurei as lágrimas). Deu para perceber que sempre que uma menina sofre bullying relacionado à sua aparência, é a menina que muda sua atitude em relação a isso. Só que o bullying nunca termina, só muda o motivo. Assim, no curso, a gente se deu conta, juntas, de que não adianta querer agradar aos outros. Temos que ser nós mesmas. As meninas também falaram muito sobre violências que suas bisavós, avós e mães passaram. E diferente de nós, que já falamos sobre isso, muitas passaram quase a vida toda guardando estas experiências em segredo.
Fizemos atividades em grupo, cantamos, analisamos letras de músicas e ficamos tão tão amigas que não vejo a hora de encontrá-las de novo. Percebemos que a amizade entre as mulheres é muito importante para a gente se sentir forte sempre.
PARTICIPE
Uma nova edição do curso de desprincesamento será realizada em fevereiro em São Leopoldo. Informações pelo e-mail escoladedesprincesamento@gmail.com
Conteúdos:
• O que é ser menina x o que é ser princesa
• Princesamento x desprincesamento
• Estereótipos de gênero nas brincadeiras e jogos
• Estereótipo de beleza
• Autoestima, autocuidado e autodefesa preventiva

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