terça-feira, 21 de outubro de 2014

Um em cada quatro alunos é vítima de bullying ou agressor

O regresso à escola pode ser dramático. E não é por causa das aulas. Há cada vez mais casos de bullying em Portugal. Ouvimos uma mãe que perdeu o filho, outra que tenta salvar o dela, acompanhando-o em todos os recreios. E descobrimos um agressor arrependido. A 20 de Outubro celebra-se o Dia Mundial de Combate ao Bullying

Por Rita Garcia e Vera Moura de Sábado de Portugal


Na semana passada, na véspera do primeiro dia de aulas, P. estava muito ansioso. Dormiu mal, agitado, e no dia seguinte acordou muito antes de o despertador tocar. A mãe, Adelaide Nunes, foi deixá-lo à porta da Escola EB 2, 3 da Senhora da Hora, em Matosinhos, e ficou à espera do toque para se afastar do portão. Passou o resto da manhã ali perto, escondida, a olhar discretamente para o recreio. No intervalo, viu que o filho não brincou, não matou saudades dos colegas, não quis saber como tinham sido as férias dos outros. Preferiu ficar sozinho, na entrada, perto de um funcionário. 

Para Adelaide, o comportamento do filho não foi uma surpresa. No ano passado, entre Janeiro e Março, Adelaide, a mãe, passou os dias inteiros à porta da escola a protegê-lo das investidas dos colegas. Nos intervalos, o filho, de 11 anos, ia para o portão e ali ficava, a olhar para ela, até tocar outra vez. Nessa altura, uma funcionária ou um professor levava-o de volta à sala de aula, onde o rapaz se sentava imóvel – calado, encolhido, distraído, cheio de medo do próximo intervalo, desejoso que chegasse a hora de ir para casa. Mas em casa comia mal, dormia mal, inventava que lhe doía a barriga, ou a cabeça, ou outra coisa qualquer. Quando a mãe o tentava consolar, chorava e repetia: “Só ando aqui para sofrer... Eu quero morrer.” 

P. foi agredido por um grupo de seis rapazes mais velhos, com idades entre os 13 e os 15 anos, em Dezembro de 2013. No intervalo da tarde, cerca das 16h30, cercaram-no nas traseiras da escola, deram-lhe palmadas na parte de trás do pescoço e murros na cabeça. Ameaçaram matá-lo, simulando com as mãos que lhe davam tiros de pistola. Quando o rapaz tentou fugir, puxaram-lhe as calças e as cuecas para baixo. Nenhum funcionário assistiu – mas as dezenas de miúdos que estavam no recreio riram-se dele. 

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