Vanessa Bencz foi diagnosticada com transtorno de déficit de atenção. 'Quem pratica bullying também tem problema e precisa ser ouvido', diz.
Paulo GuilhermeDo G1, em São Paulo
Durante boa parte da infância, a catarinense Vanessa Bencz se acostumou com as notas baixas na escola, a dificuldade em se concentrar durante a aula, e o estigma de que não conseguiria aprender nada. Se via perdida em meio às brincadeiras dos colegas de classe, isolada em um canto da sala, às vezes reprovada com olhares pelos professores. "Ninguém queria andar perto de mim. Diziam que a burrice era contagiosa", afirma.
Vanessa demorou para descobrir que sofria de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e a entender que era vítima de bullying. Hoje, jornalista formada, ela conta a sua trajetória em forma de ficção no livro de história em quadrinhos "A menina distraída".
A jovem de Joinville (SC) diz que descobriu que algo estava errado em sua vida aos dez anos, depois de tirar várias notas zero nas provas. Era comum parar de prestar a atenção na aula para olhar pela janela ou desligar-se da aula para desenhar no caderno.
"Sempre fui muito tímida e tirava só nota baixa. Ninguém queria andar comigo", afirma. "Eu só não repetia de ano porque estudava em colégio particular que me aprovava por causa das mensalidades."
Já na adolescência, um professor de matemática a repreendeu diante de toda a classe depois de flagrá-la desenhando em vez de fazer os exercícios. "Ele disse que eu jamais seria uma desenhista, no máximo iria fazer cartaz de supermercado."
Os pais encaminharam Vanessa para uma psicóloga e aos poucos seu desempenho escolar começou a melhorar. A psicóloga diagnosticou o transtorno de déficit de atenção e passou a orientar Vanessa a como fazer seu cérebro funcionar "à sua maneira". "Ela me explicou que se eu anotasse o que o professor falava, dormisse 20 minutos à tarde e olhasse o que anotei em seguida, conseguiria entender melhor", explica. "Meu problema era ficar olhando para a janela."
A psicóloga recomendou muita leitura para Vanessa, como as séries "Harry Potter" e "Senhor dos anéis". Passou a escrever melhor, fazer ótimas redações, fez vestibular e entrou em jornalismo. Na faculdade, ganhou vários amigos.
Também no ensino superior foi se consultar com uma psiquiatra que a receitou o uso de ritalina. Na medicina, a droga de uso controlado é usada para reduzir impulsividade e hiperatividade de pessoas com TDAH. "Meu cérebro é como uma orquestra maluca, todo mundo tocando ao mesmo tempo", diz Vanessa.
O uso da ritalina por quem não precisa de tratamento é condenado pelos médicos. Além de não aumentar o poder de concentração, o remédio pode trazer riscos para a saúde.
Identificação
A jovem teve a ideia de escrever um livro em formato de história em quadrinhos para discutir os problemas que quem tem dificuldades na escola sofre. "Fiz algumas palestras e conheci muitos alunos que se identificaram com a minha história", afirma Vanessa, que chamou o namorado, Fábio Ori, para ilustrar a obra. Ela vez uma campanha no site de crowfunding Catarse e arrecadou R$ 21 mil para a produção do livro.
A jovem teve a ideia de escrever um livro em formato de história em quadrinhos para discutir os problemas que quem tem dificuldades na escola sofre. "Fiz algumas palestras e conheci muitos alunos que se identificaram com a minha história", afirma Vanessa, que chamou o namorado, Fábio Ori, para ilustrar a obra. Ela vez uma campanha no site de crowfunding Catarse e arrecadou R$ 21 mil para a produção do livro.
Na história em quadrinhos, a personagem Leila não presta atenção no professor, não consegue fazer amizades e acaba excluída na escola. Então, ela cria um 'alter ego' e passa a interagir com ela. "Ela desenha a Mulher Raio, uma heroína capaz de resolver todos estes problemas."
A história mostra ainda que o menino que praticava o bullying é, no fundo, alguém que também tem muitos problemas e precisa de cuidado e atenção. "A escola e os pais precisam entender que não apenas quem sofre o bullying, mas também quem pratica, precisa ser ouvido. Em geral eles excluem todo mundo, tanto o agressor quanto o agredido".
O livro será distribuídos em escolas da rede pública e estará à venda por R$ 25.
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