quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Garoto de 10 anos sofre bullying e é agredido na escola por usar óculos

Criança foi internada por três dias após sofrer desmaios e convulsões. Mãe do garoto registrou boletim de ocorrência e aguarda audiência.


Daniel CunhaDo G1 PI
Menino ainda apresenta marcas das agressões que sofreu ao sair da escola (Foto: Adany Oliveira)Menino ainda apresenta marcas das agressões que sofreu ao sair da escola (Foto: Adany Oliveira)
A violência entre estudantes continua a assustar pais, funcionários de escolas, e especialmente os principais alvos das agressões: as crianças e adolescentes. Um caso de bullying foi registrado na cidade de Gilbués, a 797 km de Teresina, Sul do Piauí. Um garoto de 10 anos foi agredido ao sair da escola, violência esta motivada pelo simples fato do menino usar óculos. Vídeos mostrando as agressões ganharam repercussão nas redes sociais em toda a região. O caso aconteceu no dia 22 deste mês, mas somente nessa terça-feira (28) a família registrou um Boletim de Ocorrência.
A mãe da criança, a dona de casa Valderez Dourado Soares, conta que a agressão sofrida pelo filho foi tamanha, que o garoto passou a apresentar desmaios e a sofrer também convulsões, que ela acredita serem decorrentes dos traumas na cabeça. O menino, que chegou a ser internado em um hospital na cidade vizinha de Bom Jesus, foi liberado apenas no sábado (25), mas agora, além das marcas físicas em seu corpo, carrega também o trauma psicológico do momento que passou.
“Meu filho agora fica nervoso apenas em ouvir falar de escola. Diz que nunca mais vai voltar para lá. Ele é uma criança curiosa, mas muito tímida, que gosta de estudar. Agora não sei mais como vai ser. Ele foi espancado por outros meninos, todos maiores do que ele. Bateram, pisaram e chutaram o meu filho. Até com um tijolo ele foi agredido”, conta Valderez.
Segundo a mãe, o garoto já havia sido alvo de agressões anteriores, causadas principalmente pela implicância dos outros estudantes com os óculos do filho. O menino, que além de apanhar frequentemente, também era submetido a violências de outras naturezas, como apelidos e humilhações constantes.
“Já havia mais de um ano que ele apanhava no colégio. Além de baterem nele, ainda o chamavam por apelidos, como “quatro-olhos” e “jeca”, e isso o deixava muito triste”, relata a mãe.
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Mãe relata que o filho continua a sentir dores mesmo após deixar o hospital (Foto: Adany Oliveira)Mãe relata que o filho continua a sentir dores após deixar o hospital (Foto: Adany Oliveira)
Valderez conta ainda que seu filho, mesmo tendo recebido alta do hospital continua sentindo dores de cabeça e confessa temer pela saúde do garoto. De acordo com ela, outros exames ainda serão realizados e o menino passará também a contar com ajuda psicológica ainda esta semana.
Garoto passou três dias no hospital após as agressões (Foto: Adany Oliveira)Garoto passou três dias no hospital após as agressões (Foto: Adany Oliveira)
“Todos os dias ele chora reclamando de dores de cabeça. Alguns exames estão marcados, mas estou começando a ficar com medo por ele. Meu medo é que seja uma coisa mais grave, e já pensamos até em ir para Teresina fazer o tratamento dele. Conversei com as pessoas do conselho tutelar da região e me disseram que na sexta-feira (31) ele vai ser atendido por um psicólogo, o que me acalma um pouco”, disse.
Outro motivo que revolta a família da criança seria a ausência dos outros pais dos garotos envolvidos na agressão. Segundo Valderez, a diretoria da escola teria solicitado a presença de todos os pais em uma reunião na manhã desta quarta-feira (29), mas apenas uma mãe teria comparecido. Ela, que registrou um boletim de ocorrência nessa terça-feira, afirma que a polícia enviou uma intimação aos responsáveis pelas crianças, para que compareçam à delegacia.
“A diretora do colégio convidou todos os pais para uma reunião e só uma mãe apareceu para conversar. Isso causa uma revolta, porque mostra que eles não estão nem um pouco interessados com a violência que nossos filhos sofrem. Fiz um boletim de ocorrência, e a polícia mandou uma intimação para os outros pais para que eles compareçam a uma audiência na delegacia. Espero que agora eles demonstrem um pouco de atenção”, desabafa.
A equipe do G1 procurou a direção da escola das crianças, mas não conseguiu falar com o diretor. O secretário de educação do município também foi procurado para comentar o assunto, mas segundo funcionários da secretaria estaria em uma reunião. O delegado que acompanha o caso também foi procurado pela reportagem, mas na delegacia as ligações não foram atendidas.
Casos como este da cidade de Gilbués não são novidades quando se trata do relacionamento entre crianças, e para a psicopedagoga Patrícia Sampaio, ninguém pratica o bullying à toa. “A criança faz porque vê em casa. Então as escolas têm que trabalhar muito com a família, com os alunos, não é negar que houve, porque a primeira coisa que ocorre é a negação por parte da escola de que o fato não aconteceu. A informação é um fator primordial. Se as crianças forem trabalhadas desde cedo para aceitar as pessoas o cenário pode ser outro”, disse.

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