segunda-feira, 15 de abril de 2013

BH é campeã quando se calcula o número de crimes violentos na escola


Mateus Parreiras


Belo Horizonte concentra 32% do total de ocorrências em ambiente escolar entre os 29 municípios mineiros com mais de 100 mil habitantes, segundo o levantamento sobre a violência feito pelo Estado de Minas. Dos 1.363 registros nessas cidades em 2011, 438 têm como referência escolas da capital.  No entanto, quando se divide o número de ocorrências pelo número de estudantes, BH apresenta apenas a décima pior taxa de registros policiais, com 77,75 ocorrências para cada grupo de 100 mil alunos. Entretanto, os números de crimes de maior potencial ofensivo nas escolas de BH são preocupantes. Em 2011, foram computados pela polícia 96 crimes violentos contra professores, estudantes e funcionários, o que corresponde a 22% do total – um percentual superior à média das demais cidades incluídas no ranking, 20,5%. Foram 32 registros de agressão, 15 de lesão corporal, 9 de roubo, um estupro e 39 incluídos na categoria “outras infrações contra a pessoa”.  Houve também três registros de porte ilegal de armas de fogo, sete de tráfico de drogas, 10 pichações e 11 de pessoas usando drogas.

Na Escola Estadual Coração Eucarístico, no Bairro Vera Cruz, na Região Leste de BH), as pichações não são apenas na área externa. Tomam também quase todo o pequeno corredor de entrada. Para fazer prova, na sexta-feira, os alunos tinham de bater num portão de ferro desse cubículo, se identificar por uma pequena abertura quadrada, onde o porteiro reconhecia quem podia entrar. “Isso é para não entrar bandidos”, disse um dos estudantes, que não quis se identificar. 
Outro dado interessante com relação às ocorrências no ambiente escolar em Belo Horizonte é o alto índice de registros envolvendo estabelecimentos particulares de ensino. Enquanto nas cidades do interior essa taxa é quase irrisória, na capital ocorrências em escolas privadas chegam a representar 29% do total das estatísticas da Polícia Militar, com 126 casos, contra 158 (36%) nas instituições estaduais, 139 (32%) nas municipais e 15 (3%) nas federais. O pior é que esses números podem ser maiores, pois há o risco de serem subnotificados. 

“A violência está presente nas escolas particulares, mas muitas instituições não desejam a divulgação, o envolvimento da polícia, e por isso tudo acaba resolvido internamente”, afirma a doutora em educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Jussara Bueno de Queiroz Pascolaino. A especialista é autora de uma dissertação sobre o impacto da violência nos professores. “Agressões e falta de respeito na sala de aula quebram o ciclo necessário para o aprendizado. Os professores sofrem mental e fisicamente, os alunos perdem o interesse pelos estudos”, avalia Pascoalino.

Para o presidente da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado Duarte Bechir (PSD), cerca de 60% das ocorrências poderiam ser resolvidas com ações nas famílias. “O que se  pôde perceber nos municípios do interior é que os alunos já chegam às escolas numa situação de abandono ou de fragilidade familiar. Por isso há não apenas a violência, mas a falta de interesse e de vocação de aprender”, disse. A situação é delicada, mas não é desesperadora, de acordo com o parlamentar, que sugere a implantação de departamentos de psicologia nas unidades de ensino. “Tivemos experiências em cidades como Campo Belo, onde a escola, por meio do psicólogo, pôde detectar as fragilidades da família e tentar uma solução para integrar o aluno ao ensino”, afirma.

AÇÕES PREVENTIVAS O tenente-coronel Alberto Luiz Alves, chefe da Assessoria de Comunicação Organizacional da PM, diz que o grande número de ocorrências mostra a presença da corporação no ambiente escolar. “Os registros não significam necessariamente violência, mas que a polícia esteve no local e registrou o fato ou agiu preventivamente”, afirma. Segundo o militar, há planos de ampliar as ações de integradas com a Secretaria Estadual de Educação. No último ano, os projetos de combate à violência no ambiente escolar atenderam 3.378 instituições de ensino e 255.519 estudantes. “Queremos ampliar essas ações de conscientização e preventivas, principalmente o programa Jovens Construindo a Cidadania (JCC), que atende também alunos dos turnos noturnos. Além disso, temos 400 policiais só para a prevenção escolar”, informou o policial.

A secretária adjunta de Estado da Educação, Sueli Pires, prefere não caracterizar as escolas como seguras ou inseguras. “Temos fatores inesperados que ocorrem, não dá para dizer que estamos 100% preparados, mas o que nos é pedido, como câmeras para prevenção, isso conseguimos sempre para as escolas”, informou. De acordo com ela, o planejamento escolar funciona em rede, integrado à Defensoria Pública, Assembleia Legislativa, Ministério Público, conselhos tutelares, secretarias e forças de segurança pública. “Temos aperfeiçoado gestores e educadores em escolas de alta vulnerabilidade. Só na semana passada foram capacitados mais 600. Na maioria dos casos a violência ocorre fora das escolas, mas afeta a vida dos alunos e os processos pedagógicos. Por isso temos de estar preparados”.

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