domingo, 7 de maio de 2017

Ler é Bom, Vai | Minha Metade Silenciosa, um livro necessário de Andrew Smith

POLTRONA NERD

POR PAULA RAMOS

Em tempos onde o combate ao bullying está em alta nas redes sociais, seja pelo “jogo da baleia azul” ou pela maravilhosa produção da Netflix, 13 Reasons Why, resolvi escolher um livro com temática semelhante para o Ler É Bom, Vai! de hoje.
Minha Metade Silenciosa narra a vida de Stark McClellan, um menino alto e franzino de 14 anos e que por conta de suas características físicas recebeu o apelido de Palito. Esse é, porém, o menor dos problemas de Stark em relação aos pré julgamentos, já que a razão de todo o bullying sofrido por ele é o fato de que ele nasceu “deformado” com apenas uma orelha – entenderam o título? Seu irmão mais velho Bosten sempre tenta o defender nas mais diversas situações, mas quando o assunto é a violência e o abuso dentro da própria casa, os dois meninos sofrem juntos. Enfrentar a adolescência já é complicado quando temos o apoio de nossa família e um lugar seguro para retornar no fim do dia. Stark nem isso tem. Quando o irmão foge de casa para escapar do pai, o menino vê tudo desabar e resolve ir atrás dele. Inicia-se então a maior aventura de sua vida.
“E nada do que aconteceu conosco faria sentido se eu não deixasse os verdadeiros monstros que nadavam em minha cabeça aflorarem e mostrarem seus dentes. E não há amor na minha casa, somente regras.” 
Viajar sozinho e sem rumo ajuda o menino a amadurecer e deixar para trás algumas coisas supérfluas que costumavam importar. As belas palavras do autor nos levam ao lado de Stark e por mais que muitos talvez fizessem parte do time que seriam maus com o menino, não há como não se identificar com o sofrimento e angústia que o mundo lhe oferece. Assim como aconteceu em Os Treze Porquês, houve diversos momentos em que quis entrar pelas páginas e defender o garoto das pessoas perversas que cruzam seu caminho, mas mais uma vez Andrew Smith nos oferece o conforto de saber que ainda há esperança na sociedade – mesmo que pouca.
Minha Metade Silenciosa é daqueles livros que você termina em poucas horas e depois se pergunta porque fez isso, já que gostaria de ter mais história para ler. Os personagens são tão complexos e bem desenvolvidos que nenhuma ponta fica solta no fim. Mesmo tendo suas próprias tramas para contar, cada um é uma peça no grande quebra-cabeça elaborado por Smith. Não pense você que a trama é infantil por se tratar de um livro “para adolescentes”, pois os abusos psicológicos e sexuais sofridos por Boston estão presentes em mais casas do que imaginamos pelo mundo, e é um tema não suficientemente abordado. A hipocrisia, a homofobia e o preconceito ainda estão incrustados em alguns seres humanos – se é que podemos nos referir assim -, e cabe a nós evitar que mais Starks e Bostens sofram por isso.
Apesar de ser um drama em boa parte do tempo, há momentos de amor e ternura nas páginas de Andrew representando a famosa luz no fim do túnel. O conforto familiar oferecido pela tia dos rapazes simboliza aquele resquício de ilusão de que tudo ficará bem – por mais que demore, fica. O autor não nos poupa de palavras pesadas e intensas, sejam elas boas ou ruins, e farão o leitor emocionar-se em ambas as situações. Como o livro é narrado sob o ponto de vista de Stark, temos toda e completa noção do que os olhos adolescentes e castigados estão vendo, além dos sentimos reais expressos em seu “diário”. Muitas vezes nos questionamos se aguentaríamos metade do que o menino sofre e continua sorrindo, amando e vivendo sua vida como um garoto de 14 anos.
Seres humanos precisam daquele buraco, para que as coisas possam sair. As coisas entram na minha cabeça e ficam quicando lá dentro até arrumarem um jeito de sair.
Um livro que nos mostra o real valor da amizade entre irmãos, o quão ruim um ser humano pode ser – mesmo que ele seja seu pai, a perseverança de continuar vivendo dia após dia e quanto amor pode existir dentro de uma pessoa. Minha Metade Silenciosa entra na lista de livros necessários a serem abordados até mesmo em escolas e faculdades, visto que ainda encontramos esses “problemas” entranhados na sociedade.

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