por Mariana Branco
A controversa série da Netflix denuncia temas como o bullying, a misoginia e o suicídio. Autora do livro American Girls fala sobre casos reais e a relevância da série
A nova série da Netflix, 13 Reasons Why, tem estado envolvida em alguma controvérsia. A série conta a história de Hannah Baker, uma adolescente que, antes de se suicidar, grava 13 cassetes a explicar o porquê do seu desfecho. E se, por um lado, há os que acham que a série "romantiza" o suicídio e pode encorajar crianças a seguir os mesmos passos, outros acreditam que pode consciencializar as pessoas a ter mais atenção aos pedidos de ajuda – silenciosos ou não – das pessoas que as rodeiam.
A série aborda temas como a misoginia – o ódio ou repulsa pelas mulheres –, violação e o bullying. Uma onda de debates, nas redes sociais e em fóruns online, surgiram com a série – muitos sobre o quão explicita é a cena do suicídio da protagonista, poucos sobre as tais treze razões que levaram a esse desfecho.
A personagem de Hannah é violada, sofre de abusos verbais, vê fotografias íntimas suas a serem enviadas a todos os alunos da escola. Uma das personagens que sofreu abusos sexuais diz: "Os rapazes fazem coisas a raparigas de que ninguém fala nem faz nada sobre isso".
Nancy Jo Sales, escritora do livro American Girls – um livro com testemunhos reais de raparigas que sofreram abusos durante a adolescência –, num artigo do jornal britânico The Guardian, pergunta: "Isto é incomum? Exagerado? Infelizmente, não".
A escritora passou dois anos e meio a falar com raparigas – com histórias que considera "ecos" da experiência de Hannah – que sofreram ciberbullying, agressões sexuais, assédio sexual online e offline, ansiedade, depressão e que tiveram pensamentos suicidas causados por "abusos que só podem ser classificados como sexismo".
"Raparigas em Los Angeles [Estados Unidos] falaram-me sobre uma jovem cuja imagem nua foi partilhada por um rapaz com a equipa inteira de basebol, sem o consentimento dela". Sales explica que, nos últimos anos, há estudos que provam que o cyberbullying, o assédio e as agressões sexuais e o suicídio têm aumentado exponencialmente.
A autora explica ainda que, apesar de haver muitos psicólogos e responsáveis nas escolas que fazem o melhor que podem para ajudar as crianças que estão a passar por dificuldades, "há um extenso repertório de casos em que as instituições falharam às raparigas quando tentaram reportar casos de agressão sexual".
Numa publicação no site Seventeen.com sobre as reacções a 13 Reasons Why, uma rapariga diz: "É a verdade. E as pessoas que não gostam não têm um mínimo de noção de como é o ensino secundário".
Para Sales, a série não é aconselhável a menores de 16 anos, o que não significa que milhares de jovens não a estejam a ver. Numa visita a uma escola em Nova Jérsia, Estados Unidos, a autora perguntou a quase 600 alunos do sétimo e oitavo anos se viam a série e "quase todos levantaram a mão, o que surpreendeu o director e os professores".
Escolas pelos Estados Unidos advertiram os pais dos alunos para não os deixarem ver a série, por poder perturbar "crianças vulneráveis" e inspirá-las a cometer suicídio.
Nancy Jo Sales não está contra estas advertências mas acredita que se estão a desviar do ponto mais importante – falar sobre o que levou ao suicídio da personagem Hannah Baker. "Precisamos de falar com eles sobre a misoginia. Porque as raparigas estão a passar por coisas de que ninguém fala, e todos nós – tanto rapazes como raparigas e adultos – estamos implicados", explicou.
No último episódio da série, Hannah diz: "Isto tem que melhorar, a forma como nos tratamos uns aos outros, como olhamos uns para os outros, tem que melhorar de alguma forma". A autora afirma que "só vai melhorar se se reconhecer as coisas pelas quais as raparigas passam, e ter discussões francas sobre o que cada um pode fazer para mudar o seu comportamento, as suas atitudes, e a nossa cultura, para que não tenham que passar por mais coisas deste género".
A autora dedicou o livro American Girls à amiga Alyson, que cometeu suicídio em 2014: "Apesar de estar nos 30 anos, acredito que o suicídio foi provocado, em parte, por experiências muito semelhantes às raparigas do meu livro, e às de Hannah. Todos os dias pergunto a mim mesma, o que poderia ter feito para a ajudar?".
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