terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Bullying se torna debate obrigatório nas escolas do país

Em São Paulo

Antes tabu nas escolas, o bullying ganha cada vez mais espaço como tema de aula. Colégios apostam em estratégias diversas --de cartilhas a teatros-- para prevenir e combater esse tipo de violência. Uma lei federal que começa a vigorar nesta semana vai obrigar toda as escolas a ter ações contra o bullying.
Além dos estabelecimentos de ensino, a nova regra vale para clubes e agremiações recreativas. Pais e professores também devem ser orientados sobre bullying --quando há perseguição sistemática, física ou psicológica, presencial ou virtual. Outra previsão é dar assistência psicológica e jurídica às vítimas e aos agressores.
Na maioria das escolas, as ações mais intensas são no ensino fundamental 2 (6º ao 9º anos), quando os alunos começam a adolescência. O Colégio Horizontes Uirapuru, em Cerqueira César, região central, usa psicodramas (pequenas dramatizações) para mostrar os efeitos do bullying aos estudantes dessa faixa etária.
"É eficiente porque um se põe no papel do outro: da vítima, do agressor ou de quem assiste", explica Gabriela Martins, diretora da escola. A reflexão é feita após o teatro, com base em situações cotidianas propostas pelos alunos. Eles também discutem cartilhas e são estimulados a criar campanhas internas sobre o tema.
No Colégio Rio Branco, em Higienópolis, na região central, a ficção também é uma ferramenta de prevenção. Alunos do 7º ano do fundamental criam filmes em stop motion para discutir o bullying. Com papelão, bonecos de plástico e massinha, eles filmam cenas que reproduzem casos de violência.
"Já vi aluno pedindo desculpas ao colega por reconhecer que fazia uma agressão desse tipo", conta Jorge Farias, professor de Tecnologia e criador do projeto. "O principal objetivo é que eles proponham soluções."
A versão online da violência é a que mais preocupa educadores. "Na rede social, eles se sentem protegidos, anônimos", diz Farias. No Colégio Horizontes Uirapuru, uma professora acompanha a timeline de alunos nas redes sociais para identificar possíveis problemas. O risco maior está em grupos fechados, como os de WhatsApp.
Nem todas as escolas conseguem identificar e resolver os casos de bullying. A enfermeira Geisa Araújo, de 44 anos, tirou o filho de um colégio particular da capital por causa da inabilidade da diretoria para tratar do problema.
Após uma cirurgia cerebral, o filho de Geisa, hoje com 10 anos, ficou mais lento e com excesso de peso. "Os colegas chamavam de 'gordo nojento' e isolavam", conta. "No início, não acreditei nele. Só vi de fato quando passei a levá-lo todos os dias para a aula. Ele chorava, não queria ir para a escola."
Revoltada com a omissão do colégio, que minimizou o caso, buscou outra escola, pública. "Eu me senti desamparada", reclama. "Até hoje, não desgruda de mim para nada."
A técnica de informática Letícia (nome fictício), de 40 anos, também reprovou a postura do colégio público onde o filho, de 14, estuda. "Em redações da escola, ele falava que sofria bullying e cortava os braços. Levei à escola e disseram que não podiam fazer nada", diz.
Após pressão na Secretaria de Educação do município, no interior paulista, Letícia conseguiu que o filho trocasse de classe. A dificuldade de relacionamento do garoto também fez com que a família buscasse ajuda médica. A avaliação preliminar é de que ele tem autismo.

Atenção

Segundo Marta Angélica Iossi, especialista em saúde escolar, é importante que as escolas deem voz às crianças e adolescentes. "Muitos adultos encaram o bullying como natural da idade. Mas, quando causa sofrimento, não é."
Outra preocupação deve ser com o agressor. "Ele não deve ser punido, também precisa de ajuda. A maioria dos programas só olha a vítima", aponta ela, da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto.
Para a psicopedagoga Maria Irene Maluf, é difícil lidar com os pais. "Muitos não veem a situação com clareza. Devem ser tratados ao lado da criança."
(As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".)

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