sexta-feira, 12 de maio de 2017

“Brincadeiras sadias são aquelas em que todos se divertem”, resume defensora sobre violência e bullying

A CRÍTICA MS

Audiência foi realizada na Câmara Municipal
Audiência foi realizada na Câmara Municipal / Divulgação
Representantes de diversos segmentos sociais debateram, durante audiência pública na tarde dessa terça-feira (9), a situação da violência e do bullying nas escolas de Campo Grande. Para especialistas, a prática deve receber atenção especial do poder público, já que pode resultar em traumas graves para quem é vítima.
“O grande diferencial, e o que nos preocupa com relação ao bullying, é o resultado dele. Se um dia fomos vítima ou algozes, o que diferencia o resultado é justamente o sentimento que isso envolve. Brincadeiras sadias são aquelas em que todos se divertem. A brincadeira, quando todos se divertem, como apelidos, não é bullying. Ele começa a existir a partir do momento que causa algum dano psicológico àquela criança”, diz a defensora pública Débora Maria de Souza Paulino, que atua junto à 4ª Defensoria Pública da Infância e Juventude.
A especialista ainda lança um alerta os pais: a criança pode ser vítima do bullying, também, dentro da própria casa, e não apenas no ambiente escolar. “O cyberbullying extrapola o ambiente escolar. Ele entra por um veículo silencioso, que são as mídias digitais. Existe um perigo muito grande que vem pelo computador, pelo celular, nos grupos de WhatsApp, por e-mails e pelas redes sociais”, completou.
A audiência, convocada pela Mesa Direta da Câmara Municipal, contou com a presença de professores rede pública de ensino, pais e autoridades no assunto. Representantes da Prefeitura e do Governo do Estado destacaram a criação de grêmios estudantis como um importante instrumento no combate aos abusos em escolas e demais unidades de ensino.
“Vamos instituir os grêmios estudantis nas 94 escolas do município. Já estamos em fase de consolidação nas 12 grandes escolas do município. Por meio deles, poderemos instruir os jovens líderes desses movimentos. Eles mesmos poderão promover campanhas de combate e prevenção ao bullying. Vamos ter quase 700 jovens liderando o movimento estudantil”, disse Maicon Nogueira, subsecretario de Políticas para a Juventude de Campo Grande.
Em âmbito estadual, este projeto já existe, conforme adiantou o de Juventude do Estado. “Nós já estamos com 60 grêmios estudantis em Campo Grande. Nossa previsão, para o mês que vem, é um grande encontro. Dentro deles, discutir a violência dentro da escola. Vemos pessoas até mesmo perdendo a vida por causa do bullying”, alertou.
Para a coordenadora do projeto Justiça Restaurativa na Escolas, do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), Márcia Regina, o bullying deve ser discutido não só dentro das escolas, mas nas comunidades.  “Acreditamos que, trabalhando assim, poderemos proteger as crianças, prevenir que elas estejam em um ambiente de violência. É uma violência velada, pois muitas vezes é praticado pela omissão, pela exclusão. A partir do momento que essas crianças observarem que aquele outro, vítima, é igual a si, nós teremos uma comunidade melhor, uma escola melhor. É um assunto sério, pode levar ao suicídio, e podemos evitar. Uma forma de evitar é discutir como ele acontece, mas, sobretudo, agindo”, analisou.
A secretária Municipal de Educação, Ilza Matheus de Souza, lembrou que as agressões e assédio praticados contra as crianças podem trazer transtornos para o resto da vida.“Podemos permitir que essa criança não sinta vontade conviver em sociedade pelo tratamento que recebe. Mas, também, não sabemos o que é que isso vai gerar, que sentimento vai desenvolver dentro desta criança. E pode ser um sentimento muito grande de vingança. Sabemos que o bullying não é um privilégio de Campo Grande: ele acontece no mundo todo. Se somarmos esforços, com certeza teremos adultos muito mais felizes no futuro”, disse.
Para o presidente da Comissão Permanente de Educação e Desporto da Câmara Municipal de Campo Grande, vereador Valdir Gomes, o educador não pode ser responsabilizado. Ele adiantou ainda que o colegiado irá realizar visitas periódicas às escolas de Campo Grande, “não para policiar, mas para conhecer a realidade”. “É algo que acontece longe dos olhos. Cabe a família cuidar. Temos que tomar medidas para ver com quem as crianças estão conversando. A Comissão Permanente dessa Casa vai começar visitar as escolas. Não para policiar, mas para poder, também, conhecer a situação de cada escola”, garantiu.
Já o presidente da Câmara, vereador Professor João Rocha, destacou que o momento é de humildade. “Temos que ter a humildade de reconhecer que, de repente, estamos perdidos. Onde estão nossos adversários ou nossos aliados? As coisas estão muito invisíveis. Que sociedade é essa que vivemos? Estamos assustados com isso. O primeiro passo é esse: reconhecer nossas impotências, nossa incompetência para lidar com isso que está aí. Um invisível que não conseguimos detectar. Que nós possamos, no mínimo, multiplicar essa preocupação e esse sentimento de buscar entender o que acontece. Só vamos conseguir dar o primeiro passo no momento que entendermos que somos impotentes. Aqui, buscamos provocar a sociedade. O problema é de todos nós e precisamos buscar caminhos, tentar acertar mais e errar menos”, concluiu.

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