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Pode uma série levar um adolescente a pôr fim à vida? Especialistas admitem que sim e apelam à supervisão dos pais
Aos 17 anos, Hannah Baker decidiu pôr fim à própria vida, deixando sete cassetes com 13 gravações onde explica os motivos que a levaram ao suicídio. "13 Reasons Why" (Por 13 Razões, em português) é uma das séries mais faladas do momento, não só por ser um sucesso entre adolescentes e jovens, mas pelos temas que aborda: bullying, violência sexual, suicídio. Se há quem considere positivo trazer estas problemáticas para a discussão, há especialistas que defendem que não as trata da melhor forma e que até romantiza o suicídio.
Para Maria Azenha, ex vice presidente da SOS Voz Amiga - linha que apoia pessoas com problemas de solidão, dependências, em risco de pôr fim à vida - "é positivo, com algumas reservas, levantar o tema do suicídio", que "ainda é um estigma". Mas o modo como é apresentado na série da Netflix, que estreou no final de março, levanta muitas questões. "Tem cenas gráficas muito violentas, que vistas por um adolescente ou uma pessoa em fragilidade emocional, podem despertar comportamentos de imitação".
Durante a série, critica Maria Azenha, "nunca é apresentada uma alternativa para o suicídio, um caminho de esperança". Além disso, prossegue, "as cassetes são cartas de suicídio atirando as culpas para os outros, como se fosse um ato de vingança". Hannah "vem conduzir a uma glorificação do suicídio", está associada a uma "figura de herói". Um dos riscos, explica, é que os adolescentes podem confundir "realidade com ficção". " Há uma tendência para romantizar".
A pedopsiquiatra Ana Vasconcelos considera que "a questão não é a série em si, mas o território onde cai, o jovem que se confronta sozinho com pensamentos para opinar sobre o que vê". Vários estudos indicam que "as pessoas que se tentaram suicidar têm quadros depressivos" e a "ideia de se suicidarem é familiar", pelo que uma série deste género "pode trazer ao de cima esses pensamentos". Está nas mãos dos adultos, ressalva, fazer com que a série, cuja produção técnica é da cantora Selena Gomez, possa ter um efeito positivo.
"Os pais devem perguntar aos filhos o que estão a ver, o que sentem, o que pensam. Perceber se a série os ajuda ou se estão a mostrar elementos que fazem temer pela sua saúde mental", aconselha. E não julgar. "A adolescência é um momento em que se tomam atitude e se têm opiniões muito radicais, que podem afligir ou assustar os pais. É importante que os adultos não percam a calma".
Leonor, de 14 anos, conta ao DN que, tal como a maioria dos colegas da turma, já viu todos os episódios, acompanhada pela mãe, com quem discute a série. "Acho que, de certo modo, retrata a realidade, embora exagere um pouco. É importante para aqueles que praticam bullying verem a dor que provocam nos outros". Uma opinião semelhante é partilhada por Tânia, estudante universitária, de 22 anos, que começou a ver a série depois de ler uma notícia que dava conta de um aumento de pedidos de ajuda a associações que combatem o suicídio, no Brasil, alegadamente relacionados com a mesma. Viu os 13 episódios em dois dias. "A série faz com que as pessoas percebam que tudo o que fazem ou que dizem, por muito que seja a gozar, poderá ter um efeito infeliz na vida da outra pessoa. Aparece para consciencializar as pessoas", diz ao DN. Por outro lado, destaca, "mostra alguns dos sinais de quem se quer matar, o que é muito importante".
Debater a série com adultos
Numa coisa os especialistas são unânimes: é preciso supervisão dos pais. Inês Afonso Marques, responsável pela área infantojuvenil da Oficina de Psicologia, considera que "é importante não se entrar em alarmismos". Existir um personagem marcante que se suicida "não conduz linearmente a ideias suicidas". "Pode funcionar como hipótesede prevenção e de promoção da saúde mental e da adoção de estilos de vida saudáveis, pela possibilidade de se falar do tema de forma acompanhada", sugere, acrescentando que proibir os adolescentes de ver a série não é solução. "Vejam-na juntos e conversem sobre ela".
Ressalvando que só conhece o livro que está na origem da série, a psicóloga diz que tem tido feedback positivo pois há uma sensibilização para temas importantes como o bullying.
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