sábado, 15 de outubro de 2016

Campanha pede atenção do poder público



JOANICE DE DEUS
Da Reportagem DIÁRIO DE CUIABÁ

Neste domingo, a partir das 8 horas, acontece a primeira "Caminhada da Dislexia", distúrbio que atinge 10% da população, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). Dificuldade para ler e copiar textos da lousa, omissões e transposições de letras são algumas das características dos disléxicos.

Promovido pelo Núcleo de Auxílio à Dislexia (Nadis), o evento acontece, no Parque Mãe Bonifácia, em Cuiabá, com o objetivo de divulgar e chamar a atenção das autoridades públicas, especialmente às ligadas ao setor educacional, quanto à falta de políticas públicas para quem apresenta o transtorno.

“Muitas pessoas não conhecem a dislexia e não sabem o que é. Há muito preconceito e as crianças sofrem muito bullying. A intenção é divulgar e pedir uma política para educação que seja mais voltada para essas crianças”, disse Gabrielle Maria Coury de Andrade, membro do Nadis, criado há um ano.

Ela explica que o sistema educacional brasileiro hoje é baseado em leitura escrita, mas há modelos internacionais que permitem e possibilitam outras formas de avaliação dos estudantes disléxicos. “A gente gostaria que também tivessem no Brasil. O disléxico é normal. Não é uma doença”, frisou.

Entre esses modelos, ela cita a realização de prova oral ou com duração de duas horas a mais, o que permite que o aluno disléxico consiga realizar com sucesso e obter bons resultados em uma avaliação. “O próprio Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) já é assim. O Enem já dá esse direito e estamos lutando para que isso seja estendido para todos os níveis da educação”, reforçou.

Para Gabrielle de Andrade é importante qualificar os professores tanto das redes pública ou privada para que possam entender o que é a dislexia e conduzir o aluno de forma que ele caminhe satisfatoriamente em sua aprendizagem.

Foi ainda na alfabetização que Gabriel Barros Ferreira Franco, de 20 anos, foi diagnosticado com dislexia. À época, com cerca de seis anos, ele lembra que não queria assistir à escola por que sentia a escola como uma espécie de tortura já que os próprios professores propositalmente o colocavam mais vezes para fazer leituras.

Hoje, ele enfrenta as brincadeiras de mal gosto de cabeça erguida, mas mesmo fazendo faculdade de publicidade e propaganda ainda é alvo da falta de informação e de compreensão das pessoas, inclusive, de professores.

“Há muito preconceito ainda. A pessoa que não sabe ler ou escrever é taxada de burra escola e sofre muito bullying e é doloroso”, disse. “Na faculdade ainda não temos apoio. São muitos textos e não há pessoas ou ferramentas que possam ler os textos longos para o aluno, que continua sendo taxado burro e preguiçoso”, lamenta.

Contudo, Gabrielle de Andrade acredita que há uma boa intenção por parte das autoridades públicas, inclusive, cita que a Secretaria de Educação (Seduc) conta com uma comissão de técnicos que estuda uma forma de inserir a criança ou adolescente disléxico dentro do contexto estudantil.

“O disléxico precisa de uma terapia pedagógica. Mas, tem sido uma luta diária das mães e de convencimento”. 

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