domingo, 16 de setembro de 2012

Escolas de Salvador registram 93 casos de agressões entre alunos

Por Luana Almeida

Uma adolescente de 17 anos foi esfaqueada, nesta terça, 11, durante discussão com uma colega dentro do Colégio Estadual David Mendes Pereira, no bairro de Colinas de Pituaçu. A ocorrência é mais uma entre os 93 casos de violência nas escolas registrados entre janeiro e agosto pela  Delegacia do Adolescente Infrator (DAI). A delegada titular, Claudenice Mayo, diz que os números são relativamente altos se considerados os 115 dias em que os alunos estiveram sem aulas por conta da greve dos professores da rede estadual de ensino.

"Em 2011, um ano cujo calendário letivo não teve interrupções como esta, tivemos um total de 226 ocorrências. Este ano, os alunos passaram quase quatro meses sem aulas, então 93 casos é um número alto", avalia.
 

Aulas suspensas - As duas envolvidas no caso cursavam o 2° ano do ensino médio. Ao chegarem à escola, por volta das 8h30, se agrediram com murros e pontapés. Uma funcionária da cantina da unidade, na tentativa de separar a briga, levou uma das garotas para a cozinha do colégio. Já dentro da cozinha, a jovem golpeou a colega com uma faca que estava na pia da cozinha.

Após a agressão, a vítima recebeu os primeiros socorros na escola e, em seguida, foi levada por uma unidade do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ao posto de saúde de São Marcos. Momentos após a confusão, a Ronda Escolar esteve no local e levou as jovens e responsáveis até a DAI.

Segundo o vice-diretor do estabelecimento de ensino, Orlando Rosário, as duas jovens eram vizinhas e se desentenderam no caminho da escola. Após a briga, houve confusão no colégio e as aulas foram suspensas. "Resolvemos dispensar todos os alunos para que não houvesse mais brigas entre os amigos das alunas", disse.
 

Lesão corporal - Na delegacia, após o depoimento das jovens, foi formalizado o procedimento e encaminhado ao Ministério Público do Estado (MPE). "A partir daí, o juiz vai avaliar se elas terão que realizar trabalhos socioeducativos ou decidir qual será a medida adequada", explicou  a delegada.

De acordo com a delegada, é frequente este tipo de infração, caracterizada como lesão corporal. Este ano, já foram contabilizados 98 casos de lesões corporais, 18 ameaças de morte, dois roubos, seis casos de porte de arma branca, um de arma de fogo e duas tentativas de homicídio envolvendo adolescentes.
 

Ronda escolar  - O caso de agressão  no Colégio Estadual David Mendes Pereira ocorreu no momento em que a Secretaria da Educação do Estado promovia o Encontro do Projeto Segurança nas Escolas, no Centro Educacional Carneiro Ribeiro - Escola Parque, na Caixa D'Água. O evento reuniu o coordenador-técnico da Ronda Escolar e major da Polícia Militar Ricardo César Santana com gestores de escolas da  rede estadual.

O major Santana afirma que, este ano, a equipe da Ronda foi acionada 251 vezes. A maioria delas para intervir em brigas entre alunos. "São enfrentamentos que não geram lesões tão graves", explicou.

De acordo com a diretora de gestão descentralizada da Secretaria da Educação (SEC), Euzelinda Nogueira, o Estado  tem investido em ensino em tempo integral para que os alunos pratiquem atividades educativas durante todo o dia. "É importante também que os pais participem da vida escolar e se aproxime do processo de formação", completou a educadora.    

 

Violência contra professores é comum

Embora não estejam contabilizados nos registros da Delegacia do Adolescente Infrator (DAI),  casos de agressão de alunos a professores são comuns. Somente no mês de agosto, o vice-diretor do Colégio Estadual David Mendes Pereira, Orlando Rosário, já prestou duas queixas contra dois alunos indisciplinados. “Fui  ameaçado de morte porque chamei a atenção deles. Os professores têm medo de repreender os alunos, pois alguns são agressivos”.

Ex-professora das disciplinas de história e sociologia da Escola Estadual de Ministro Aliomar Baleeiro, que preferiu não ser identificada, afirmou que também já sofreu ameaça por parte de um aluno que se recusou a entregar uma atividade no prazo estipulado. “Alguns estudantes eram extremamente agressivos. Não só com os professores, mas também com funcionários e colegas. Com o passar do tempo, percebi que era uma forma de defesa, pois viviam em comunidades violentas”, disse.

Na opinião do especialista em educação Basilon Carvalho, a atitude agressiva dos alunos é reflexo de uma sociedade violenta. Além disso, Carvalho acredita que os pais transferem a responsabilidade de educar aos professores. “A escola, que deveria ser um local de aprendizado, tornou-se um ponto de encontro para resolver problemas criados na rua. O educador não pode dar conta disso sozinho, os pais precisam fazer a parte deles”, afirmou.

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