sábado, 21 de abril de 2012

Violência nas escolas públicas do Grande Rio revela dados alarmantes

Violência nas escolas públicas do Grande Rio revela dados alarmantes

Alguns alunos já sofreram preconceito e bullying na escola  Foto: Leonardo Fonseca

Pesquisa realizada uma por professora da UFF mostra que 98% dos estabelecimentos de ensino registram algum tipo de agressão. Estudo foi realizado entre 2010 e 2011

Uma pesquisa coordenada pela professora Marília Etienne Arreguy, da Universidade Federal Fluminense (UFF), com foco nas escolas públicas do Grande Rio, revela dados alarmantes: 98% das instituições analisadas apresentaram algum indício
de violência. O  estudo,  intitulado  “Relações entre psicologia e educação – mapeamento das práticas”, que teve início no segundo semestre de 2010 e se estendeu até o fim de 2011, percorreu 65 escolas – 43 em Niterói, 13 no Rio de Janeiro – sendo um Centro de Referência de Educação, sete em São Gonçalo e duas em Itaboraí. Das instituições, 83% eram públicas e 17% particulares. 

O resultado: 56% dos profissionais das determinadas escolas disseram existir violência, apenas 31% declararam que embora exista não é uma coisa frequente e 11% relataram que a situação é recorrente e preocupante. Apenas 2% afirmaram não existir. Os tipos são os mais variados: bullying, discriminação racial, sexual; agressão física, ameaça, seja na relação aluno com professor e vice-versa; vandalismo e até caso de roubo. Foi verificado que algumas instituições, embora poucas, realizam campanhas para combater o problema. A maioria com enfoque para o bullying. 

A pesquisa faz parte de um projeto de ensino, no qual aproximadamente 200 alunos da Faculdade de Educação da UFF foram responsáveis pela coleta dos dados. Coordenados pela professora e auxiliados pelo monitor de psicologia, Rafael Soares, os dados codificados na pesquisa fazem parte de uma primeira etapa do estudo, onde foram ouvidos pedagogos, diretores das escolas e psicólogos. 

“Esta é uma pesquisa piloto, devido à complexidade da questão. Não podemos tomar esses dados como absolutos, mas são, sem dúvida, índices do que se apresenta na realidade. Agora, o estudo vai seguir para uma segunda parte, onde pretendemos nos aprofundar nas reflexões para debater o contato entre profissionais de psicologia e educadores”, disse a pesquisadora, que expôs uma visão geral do estudo. “O que encontramos em campo foi uma defasagem teórica muito grande dos profissionais para lidar com os alunos. Quando foi citado o tema violência, falava-se em bullying”. 

A professora acredita que a ênfase no tratamento do bullying possa ser um equívoco. “O bullying focaliza a violência no indivíduo, o que vai contra outra perspectiva, que entende que o problema é uma questão mais ampla, reflexo de um sistema social e familiar, que seria o verdadeiro foco, e onde, de fato, deveria ser tratado”, disse. 

Ela atribui a expansão do problema a outro dado levantado pela pesquisa: a ausência de psicólogos nas escolas. “Apenas 25% das escolas pesquisadas têm psicólogos. Essa questão é muito grave, já que são esses profissionais que estariam aptos a identificar a origem do problema em cada estudante, e assim, no próprio ambiente escolar”, declarou. 

Ela citou que a situação abre margem para mais uma questão. “Por conta da ausência desse profissional, 74% encaminham os alunos problemáticos - os agressivos ou com déficit de aprendizagem - para o serviço público de saúde, transferindo o problema para outro órgão e existe mais uma dificuldade, a resistência da própria família em levá-los para se consultar”, disse. 
Outro dado revelado foi que 42% dos profissionais ouvidos citaram que a violência nas instituições seria um reflexo de situações familiares. “Acredito que isso tenha fundamento, tendo em vista o distanciamento entre pais e filhos, devido a fatores como saúde, questões financeiras e trabalhistas. Mas não podemos generalizar. Muitas vezes é feita essa transferência de culpa, como uma forma de tentar reduzir o problema”, pontuou Marília. 


Congresso – Os dados da pesquisa serão apresentados no III Ciclo Internacional de Conferências e Debates, que será realizado nos dias 23 e 24. A terceira edição do evento será sediada pelo IP-USP e pela FEUFF. Na etapa que ocorrerá na UFF, intitulada “Crises na esfera educativa: violências, políticas e o papel do pesquisador”, sua expressão será voltada para a discussão do problema da crescente violência nas escolas, vislumbrando sobretudo a troca de experiências entre pesquisadores e profissionais da área de saúde e educação, no Brasil e na França. O evento vai desencadear assinatura de cooperação internacional entre a UFF e a Universidade de Paris Diderot, o que promete facilitar o intercâmbio entre alunos das universidades para estudos. 


Algumas ações
A Prefeitura de Itaboraí informou que para prevenir atitudes e comportamentos violentos de alunos, a Secretaria de Educação e Cultura criou em novembro de 2010 uma lei municipal instituindo medidas de conscientização, prevenção e ações interdisciplinares e de participação comunitária no âmbito das escolas públicas e privadas. 

A Secretaria Municipal de Educação de São Gonçalo declarou que trabalha para que a situação de violência seja a menor possível nas escolas. Foi informado que nos casos em que o desentendimento é pontual, não sendo uma característica da personalidade do indivíduo, os alunos que desencadearam o ato violento são encaminhados à direção e recebem instruções sobre a convivência pacífica, respeito às diferenças e tolerância. Em casos mais graves, onde o comportamento é reincidente ou é identificado ato violento constante, o aluno é encaminhado ao Conselho Tutelar, que, junto à escola, investiga a relação do aluno com a família e o contexto social onde vive. Através do Conselho Tutelar, a criança e o adolescente têm acesso a tratamento psicológico e acompanhamento social.

Já a Prefeitura de Niterói informou que só vai se pronunciar sobre o assunto assim que a pesquisa for divulgada. A Prefeitura do Rio de Janeiro não se pronunciou. O Sindicato das Escolas Particulares do Município do Rio de Janeiro (Sinepe Rio) e o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) não se manifestaram.

Fonte: Engenhoca

Nenhum comentário:

Postar um comentário