segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A ESSÊNCIA DO BOXE É A DEFESA

Para a maioria das pessoas, boxe é sinónimo de desporto violento e de agressividade. Nada mais falso. Na Escola de Boxe de Portimão, reina a amizade e um espírito de paz que se sente logo à entrada. Cerca de trinta pessoas, entre as quais um grupo de crianças, por ser manhã de sábado, fazem a sua preparação física e treinam técnicas de pernas e braços, de forma harmoniosa e descontraída. O «barlavento» foi ao encontro do jovem Luís Filipe Fernandes, de 15 anos, que se sagrou campeão nacional de infantis, em 2014. Encontrámos um jovem muito bem-educado, algo tímido, com uma simpatia natural que ninguém espera num lutador do seu calibre.

barlavento – Quando te iniciaste no boxe e porquê?
Luís Filipe Fernandes – Iniciei-me aos 10 anos, porque os meus colegas abusavam de mim. Pedi ao meu pai para me começar a treinar.
Foste, portanto, vítima de bullying na escola?
Sim. Mas acabei logo com isso, com a minha vinda para o boxe. Não abracei a modalidade para bater em ninguém, mas sim para me defender.
No entanto, pouco depois começaste a participar em combates…
Um dia fui com o meu pai ver um campeonato. Gostei muito dos combates e decidi fazer competição. Ganhei alguns, perdi outros, mas sagrei-me campeão nacional de infantis, na época passada.
Fisicamente, um lutador tem de estar em forma. E psicologicamente? Qual é o teu pensamento quando sobes ao ringue?
Penso no que vou fazer e na gestão do tempo. Tenho de evitar que o oponente me toque e só penso no ataque em força no final do último round, se disso depender a vitória.
Qual é o teu objetivo? Ganhar mais títulos?
Treinar para melhorar sempre. Os títulos serão o corolário da boa preparação.
Como é ter o pai como treinador?
É bom. O meu pai é um bom treinador e gosto de treinar com ele.
Conversámos também com Luís Fernandes, 44 anos, pai, treinador e um dos obreiros da Escola de Boxe de Portimão, com uma vida dedicada a este desporto.
Está no boxe há largos anos. Pode contar-nos um pouco do seu percurso?
Fui atleta do Sport Clube Farense há 20 anos. Depois, tirei o curso de treinadores, em 1997. Antes de ter completado esta formação já dava aulas, numa garagem, a um número muito restrito de amigos. Depois, abrimos um clube em Portimão, onde começámos a dar treinos e de onde saíram vários campeões, incluindo um campeão internacional. A Escola de Boxe de Portimão foi criada há três anos, com o Carlos André Reis, que é o mentor. Contamos já com meia centena de praticantes.
E os filhos acabaram no boxe, tanto o Luís como a Nair, que também já se sagrou campeã nacional?
Quanto aos meus filhos, conhecem o boxe desde que nasceram. A Nair sempre gostou, mas o Luís não. O meu filho é um rapaz humilde e, por isso, começou a sofrer bullying na escola, tendo decidido praticar boxe, para ganhar mais confiança, desenvolver-se e poder enfrentar a realidade da vida, que por vezes, infelizmente, nos obriga a usar a força. Não é necessário andar a bater nas pessoas, mas simplesmente não termos medo de enfrentá-las. Começou a treinar e, como sempre teve muitas qualidades para o boxe, em 2014 ganhou o campeonato regional. Depois, defrontou um atleta do Futebol Clube do Porto, tendo-o vencido aos pontos, sagrando-se campeão nacional.
Como se sente como pai e treinador de dois campeões na modalidade que praticou?
Sinto-me orgulhoso. Mas não os obriguei a praticar a modalidade. A Nair, embora gostando muito de ginástica, optou pelo boxe. O Luís fez natação e só começou na modalidade para lidar com o bullying. As crianças não devem ser obrigadas a fazer o desporto que os pais querem. Devem fazer o que gostam. E sabem, ou acabam por descobrir a modalidade que gostam e querem praticar.
Vejo aqui muitas crianças. Porquê?
As crianças vêm experimentar e apercebem-se de que o boxe não é o desporto violento que veem nos filmes. Treinam técnicas de pernas, braços e esquiva. Nunca existe contacto antes de estarem bem preparados para esquivar-se. E, mesmo assim, é feito como um jogo, para evitar contusões e lesões.

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