sexta-feira, 30 de março de 2012

A violência chegou às escolas

Joaquim Eliseo Mendes
Se por um lado a Constituição Federal, democraticamente, levou a universalização do ensino aos brasileiros, isto é, de que todos, indistintamente tenham o direito de frequentar a escola, sendo que a maioria absoluta do alunado se encontra nas unidades públicas do País, pelo outro trouxe e possibilita o surgimento de problemas como os que estamos acompanhando presentemente através de notícias. Refiro-me às agressões que estão acontecendo dentro da escola, como tem noticiado o JC em suas últimas edições, com destaque à manchete do dia 22 último: “Violência atinge 5 escolas em 3 dias”. Todas referindo-se a renomadas escolas públicas de Bauru, aliás, ressalte-se que esse grave problema não é local, pois ocorre em escolas públicas nas médias e grandes cidades do País, principalmente nas capitais. Até agora, as pequenas cidades constituem verdadeiros oásis de tranquilidade por vários fatores. De todos os casos citados em duas edições do JC, que infelizmente já estão se tornando rotina, sem dúvida o mais triste e grave se refere a um aluno de 7 anos que, com socos e pontapés, agrediu cinco funcionários, sendo necessária a intervenção policial. 
 
Inegavelmente, tais agressões físicas e verbais nada mais são do que reflexos da violência que infelizmente grassa em todo o mundo nos tempos atuais e que é divulgada pela mídia nas 24 horas do dia. Incapazes e impotentes para modificarmos a realidade atual, vivemos em uma época de violência, sob as mais diferentes formas. Se para nós adultos essa divulgação de violência nos causa um grande mal-estar, incredulidade e sombrias expectativas, ela é maléfica e determinante principalmente para a criança e ao jovem. Pode-se afirmar, categoricamente, que esses alunos também são inconscientes vítimas da violência; formam um produto humano. São levados, conduzidos, incentivados a esse tipo de comportamento agressivo. Em tal realidade, professor, diretoria, autoridades escolares, civis e policiais são impotentes para evitar, coibir e mesmo minimizar a violência que se manifesta das mais variadas formas. Infelizmente, nas circunstâncias e ordem atual da escola, a violência continuará tendendo a aumentar. Enfim, a solução está em cruzar os braços, colocar um policial em cada escola ou revidar a agressão do aluno com a agressão da escola? Endurecer o regimento da escola, colocando o aluno agressor na rua para ele migrar para outra escola, transferindo o problema? Entendo que já chegou o momento de repensar, rever ou reinventar a escola da atualidade, visto que semelhantes problemas continuarão existindo. Mude o pessoal, mudem os alunos da escola, tendo em vista que esta é perene. Sempre me bati defendendo a necessidade de uma nova estrutura humana e profissional para a escola com a lotação de psicólogo, assistente social, serviço dentário e médico. É inconcebível o divórcio entre a escola e a comunidade, falta afinidade, falta compreensão de ambas as partes. 
Classes com menos alunos possibilitando ao professor melhor conhecimento dos mesmos e maior permanência na mesma escola; valorização do mesmo por salários dignos e condizentes; um trabalho constante junto aos alunos visando sua valorização, incentivando e descobrindo aqueles que têm aptidão para o exercício do magistério; que o professor seja valorizado e se torne um ícone a ser imitado.

Que a profissão de professor não seja menosprezada como atualmente mas sim admirada e almejada. Torna-se ainda necessária uma complementação curricular através da qual o aluno tenha consciência da sociedade difícil em que está vivendo e convivendo mostrando-lhe como se defender e se preservar no presente e no futuro, mostrando-lhe abertamente os perigos que o cercam, principalmente o das drogas que levam a lugar nenhum. Há necessidade de que o aluno tenha conhecimento da inversão de valores que reina em nossa sociedade e pontue aqueles que verdadeiramente são valores para a vida e não passageiros. Valorização e não banalização da vida humana! Enquanto medidas não forem discutidas e tomadas na atualidade, a médio e longo prazo continuaremos a ler manchetes de violências nas escolas e especulando sobre o nosso futuro.



O autor,
Joaquim Eliseo Mendes, é professor
 
Fonte: J Net

Nenhum comentário:

Postar um comentário