terça-feira, 27 de março de 2012

Juventude

• 27-03-2012 •
Juventude
por Heliana Vilela
(Co-fundadora da Associação Meninos de Oiro)

Estudantes -Testemunhas - Vitimas


“Eu acredito em ti, eu confio em ti, eu preocupo-me contigo e quero que te preocupes comigo. Eu acho que és capaz de lidar bem com situações difíceis, és importante para mim mas sobretudo és importante para ti mesmo” Daniel Sampaio no artigo “O que dizer aos jovens”.
 


Ao ler estas palavras, são várias as questões que merecem uma profunda reflexão. No entanto, há uma que me parece ser fundamental discutir – a auto estima.

Vários estudos referenciam e comprovam que, entre jovens, a relação entre a baixa auto estima e a pouca, ou nenhuma, convivência com os colegas, torna-os mais vulneráveis às diversas formas de violência, vividas dentro e fora do perímetro escolar e ao prejuízo psico social que acarretam as experiências de violência a que são submetidos.

Para Togneta, o bullying caracteriza-se por uma agressão que se apresenta de forma velada, causando dor e angústia à pessoa que está a ser vitimizada, podendo levá-la à depressão, isolamento, baixa auto estima, quebra no rendimento escolar, e até ao suicídio. 

As vítimas, muitas vezes, sofrem caladas, carregando situações traumatizantes e de constrangimento que vivenciaram ao longo das suas vidas e que muitas vezes têem consequências que se reflectem em idade adulta. Importa referir que o comportamento do agressor ocorre geralmente pela ausência total ou parcial da família no dia-a-dia da criança/jovem. Daniel Sampaio diz-nos a propósito de uma história de bullying que lhe tinha sido contada por um aluno sobre um colega o seguinte: “… pergunto-me se a vida escolar daquele aluno – vitima que o colega me trazia não poderia ter começado a ficar vulnerável na sua própria casa” Segundo Murillo José Digiácom, o combate à violência deve ser trabalhado primordialmente nas suas raízes, que se encontram além dos limites da escola, devendo assumir sua missão legal e constitucional de promove não se tornando em mais um foco de opressão e desrespeito aos direitos das crianças e dos jovens.

O bullying é um problema mundial. Quando questionamos os jovens sobre o que é bullying a grande maioria dão a resposta correta. Não se trata de falta de informação mas sim como a descodificam. E entenda-se por informação, quer aquela que é transmitida no lar pelos pais, avós e irmãos, quer aquela que a sociedade lhes transmite através dos meios tecnológicos cada vez mais avançados onde a mensagem é divulgada em segundos a centenas de leitores. Ao assistirmos a uma cultura de desresponsabilização em que a juventude é considerada uma geração “à parte” que causa confusão e agitação e não a responsabiliza fazendo-a parte da solução dos problemas que são criados pelos jovens e pela sociedade, assistimos muitas vezes à confusão entre ato de cidadania e traição, pelo que, na sua maioria as testemunhas optam pelo silêncio.

A opinião e o sentimento que cada jovem tem de si mesmo, ou seja a auto estima, é de extrema importância no sucesso contra formas de opressão, humilhação, abandono, rejeição, carência, vergonha, insegurança e medo. O ser capaz de respeitar, gostar de si, amar e ser amado, e sobretudo confiar em si próprio e no que a rodeia, seja a família, professores, comissões e sobretudo colegas é meio caminho para o diálogo, para elevar a autoconfiança e o seu desempenho enquanto cidadão proactivo não se transformando na testemunha silenciosa.

Se bem que a mudança começa em cada indivíduo, o papel do coletivo do qual fazem parte a família, a escola e o estado são fundamentais para que este tipo de fenómeno não avance nem se torne numa arma silenciosa que destrói não uma mas várias vidas.

Heliana Vilela

Fonte: Setúbal na Rede de Portugal

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