Ela tem uma história de vida marcada por isolamento, sofrimento, episódios de bullying e insultos, sobretudo na época em que estava na escola. Mui chegou ao limite, e cogitou várias vezes em se matar.
Mui nasceu com ictiose arlequim, uma doença que faz perder muita pele — em uma noite, a quantidade de pele perdida é equivalente ao que uma pessoa sem essa doença perde em uma semana. Mui, tida como "persistente, corajosa e destemida", vem superando tudo isso.
Rog e Tina viram a criança abandonada num hospital em Hong Kong. Decidiram criá-la, apesar de os médicos garantirem que ela não iria sobreviver por muito tempo. "Davam 10, no máximo 15 anos de vida", diz Tina.
Ainda assim, o casal decidiu adotá-la oficialmente quando ela tinha 3 anos de idade. Casaram-se em Hong Kong e mudaram-se da Austrália, onde estavam, para lá.
"Ela chegou a ficar semanas internadas, em estado grave, quando tinha 5, 6 anos. Outra vez disseram: ela vai morrer em breve. Mas ela sobreviveu. Médicos até pensaram em colocá-la para morar numa clínica. Mas fomos contra e tomamos medidas para que pudesse viver em casa conosco", diz Tina.
Apesar da doença grave, Mui tentava viver como uma criança sem esse distúrbio. Frequentou escola, e era, de acordo com os pais "estudiosa, sempre interessada em tudo".
Os problemas da garota com colegas começaram na adolescência. Primeiro, ela sofria com insultos e gozações na sala de aula. "Ela chegava da escola chorando, atordoada", conta Tina. "Depois se trancava no quarto. Ficava agressiva. Outras vezes parecia melancólica, distante".
Ela se queixava muito, e ficava tristíssima, também com os olhares na rua. "Também chorava quando a observavam, apontavam pra ela como se fosse uma alienígena", relembra Rog. Depois vieram as piadas implacáveis e o bullying por meio da internet, e, anos depois, pelas redes sociais .
"Pensei em me matar, várias vezes", admitiu Mui. "Até pesquisei maneiras de como seria o suicídio. Estava levando a sério mesmo essa ideia. Não suportava mais tanta perseguição".
Fã de rúgbi, Mui virou árbitra do esporte na escola. Ganhou ainda mais admiração por isso. A inteligência na escola também impressionava seus colegas.
Mui superou essa fase sombria. Escreveu um livro, cujo título pode ser traduzido como "A Garota por Trás do Rosto". E passou também a dar palestras sobre como enfrentas e conscientizar as pessoas a respeito do bullying. Logo ela ficou famosa na China .
Ela viaja para dar palestras, incluindo países da Europa e EUA. Já conheceu celebridades como a top Kate Moss e e o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair. "Quem pode ter esse privilégio todo?", brinca.
A pessoa com o distúrbio genético de Mui que viveu por mais tempo chegou aos 31 anos. "Estou com 22. Eu passo dessa idade", diz ela, confiante e decidida .
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