domingo, 15 de agosto de 2010

Vai continuar no papel de um simples espectador?


O bullying não é um problema apenas do agressor e vítima. Quem assiste a tudo isso em silêncio, de certa forma, acaba colaborando para o problema. Já parou para pensar nisso?


Eric se sentia isolado pelos colegas da escola. Não era convidado para festas, acampamentos ou viagens. Como se não bastasse, era alvo de apelidos e gozações cotidianas. A pressão psicológica intensa fez com que o garoto de 18 anos, junto com o amigo Dylan, resolvesse ir um dia armado ao colégio e matar 13 estudantes, para depois se suicidar. Nas investigações da tragédia, as autoridades encontraram em seu diário a frase: “Eu odeio vocês por me deixarem de fora de tantas coisas divertidas”.

Ocorrido há cerca de 10 anos em Columbine, no estado do Colorado (Estados Unidos), o fato é um reação extrema de uma vítima do bullying (do inglês bully, valentão) – que se caracteriza, em geral, quando um grupo de jovens resolve intimidar, humilhar ou isolar certos colegas de forma repetitiva. Geralmente, os debates sobre o assunto acabam focando as atenções entre agressor e vítima, mas um personagem coadjuvante dessa história também é responsável pelo enredo cruel: o espectador.

“Eles observavam e não faziam nada”, diz Ricardo Augusto Stachevski, 14 anos. Os episódios de bullying que o garoto sofreu aconteceram há dois anos, num colégio particular de Pontal do Paraná. “Eu era aquele garoto de óculos, magrinho, e por isso eles ‘caíam em cima’. Fechavam a porta da sala, impediam minha passagem, coisas assim”, diz ele, que ainda pediu a ajuda dos professores – sem sucesso.

O ápice dos problemas foi quando Ricardo recebeu um tapa na cara. “Não revidei, até porque ele era mais forte do que eu. Mas contei para meu pai, e ele disse para não ‘deixar barato’. Coisa de pai”, conta. Sem a ajuda de terceiros, o garoto percebeu que tinha que se virar por conta própria. “Comecei a fazer musculação em casa, substituí os óculos pelas lentes de contato e comecei a usar roupas e tênis de marca. Tive que mudar, porque para eu ser respeitado, tinha que ser como eles”, comenta.

Ajuda

A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro Bullying – Mentes Perigosas nas Escolas (Editora Fontanar; preço mé­­­dio: R$ 33,90), divide os personagens do fenômeno em três: vítimas, agressores e espectadores. “Eles (os que assistem a tudo) tendem a se manter calados sobre o que sabem ou presenciam. Em algumas situações, contam casos de bullying, mas negam que sejam reflexo de sua vivência escolar, citando cenas de filmes ou novelas”, explica.

Ela conta ainda que, na maioria dos casos, o silêncio existe por me­­­do, ou de ser visto como um amigo da vítima, ou de se tornar uma vítima também. “Ninguém quer ser amigo daquele cara que é zoado”, resume Ricardo.

Mariana Avelar Flor, de 15 anos, resolveu se arriscar. Embora não tenha sido alvo de agressões, ela tentou defender uma amiga nessa situação. “Como ela era magrinha e tinha um sorriso grande, chamavam ela de ‘ratinho’, mas ela odiava”, conta. “Eu falava que ela não gostava, pedia para eles não falarem. Depois de um certo tempo, comecei a perceber que, por eu defendê-la, havia uma certa pressão em cima de mim também”, conta.

Para a orientadora educacional do Dom Bosco Francisca Maria Fauw, o pior dos participantes do bullying não é o agressor, mas o espectador. “Essas pessoas veem algo errado e não tomam uma atitude. Daqui a pouco eles vão crescer, vão conviver em sociedade, e quando verem algo errado, vão achar normal”, fala. Por isso, ela defende o exemplo dos espectadores, através da atitude. “A escola deve estimular que esses jovens utilizem a inteligência para resolver os problemas. O exemplo deles educa”, opina.

Fonte: Gazeta do Povo


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