domingo, 15 de agosto de 2010

Conversar faz a diferença


Alunos da Escola Matteo Gianella, em Caxias, desenvolvem projeto inovador

Caxias do Sul – Quando a professora de português Márcia Volquind trabalhou a clássica história de A Branca de Neve e os Sete Anões pelo enfoque pejorativo, não esperava que os estudantes levassem tão longe o projeto antibullying que estava introduzindo.

Os próprios alunos da 8ª série da Escola Estadual de Ensino Fundamental Matteo Gianella, no bairro Santa Catarina, estenderam a campanha para outras séries e até para fora dos muros da escola por meio de um blog.


Eles contam suas experiências aos mais novos para conscientizá-los de que, como os anões do conto infantil, as pessoas são diferentes e não devem ser discriminadas.


Para estimular os alunos a falarem sobre bullying, a professora começou expondo um problema de infância. Quando era pequena, Márcia tinha os dentes caninos mais desenvolvidos do que os outros e, frequentemente, recebia apelidos por isso. Por mais inofensiva que a brincadeira escolar pareça, ser chamada de drácula lhe causou um transtorno.


– Por um bom tempo da minha vida, eu não sorri. Por mais complicado que seja para os alunos expor histórias como essas, os relatos impressionam e acabam causando identificação – relembra a professora.


No grupo da 8ª série, multiplicador do projeto pela escola, a maioria já sofreu algum tipo de bullying. Matheus Montanari, 14 anos, não tem vergonha de exibir seu cabelo azul pelos corredores. Entretanto, o adolescente é vítima de comentários maldosos.


– As pessoas não aceitam as diferenças. Normalmente, elas não falam para ti, mas já aconteceu de as pessoas rirem de mim e dizer que eu deveria processar o meu cabeleireiro. Antes eu ficava mais triste, mas é o que eu gosto. Porém, o apoio que recebo é muito mais forte – acredita Matheus.


Por causa da estatura, a estudante Bruna Castellan, 14, também ganhou diversos apelidos. Ela admite que ficava chateada.


– Eu fui até tentar fazer tratamento para ganhar um pouco de altura, mas eu parei quando vi que não tinha moral correr atrás de algo que não dependia só de mim – conta a aluna.


Para a professora, a iniciativa tem provado que a conversa continua sendo a melhor maneira de se combater a violência, tanto psicológica quanto física.


– Em sala de aula você encontra os sete anões, mas esses apelidos fazem as pessoas se excluírem. O que temos de aprender é a conviver em grupo e aceitar as pessoas. Para isso, primeiro é preciso conhecê-las – ensina Márcia.


babiana.mugnol@pioneiro.com

BABIANA MUGNOL

Fonte: Pioneiro Caxias do Sul

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