terça-feira, 15 de dezembro de 2015

2015: o ano em que a internet mostrou o que tem de pior

Giselle de Almeida
Do UOL, no Rio


  • Tais, Maju e Sheron foram vítimas de racismo na internet
    Tais, Maju e Sheron foram vítimas de racismo na internet
Bullying, pedofilia, homofobia, racismo. Não foram poucas as demonstrações de ódio que a internet proporcionou em 2015 a famosos – e, por extensão, a milhares de pessoas que sofrem os mesmos ataques diariamente. A jornalista Maria Júlia Coutinho e as atrizes Taís Araújo, Cris Vianna e Sheron Menezzes foram vítimas de ofensas nas redes sociais e preferiram não se calar, levando provas para investigação pela polícia.
"Racismo e intolerância mataram e continuam matando milhares de pessoas, e quem pratica esse crime deve ir para o seu lugar, a cadeia", escreveu Sheron, após as agressões, ocorridas no início de dezembro. Em julho, a vítima havia sido Maju, apresentadora da previsão do tempo do "Jornal Nacional", caso que gerou uma onda de apoio de famosos e anônimos com a hashtag #somostodosmaju.
Pessoas públicas também têm essa missão de jogar luz sobre um tema que envolve milhões de pessoas que sofrem anonimamente todos os dias.
Maria Tereza Maldonado, psicoterapeuta e autora do livro "Bullying e Cyberbullying"
No ar na série "Mister Brau", Taís Araújo prestou depoimento para ajudar a identificar os autores dos ataques em sua página no Facebook, em novembro. "Sei que meu caso não é isolado e é exatamente o que acontece com milhares de outros negros no país", afirmou. Algumas semanas depois, Cris Vianna, a Indira de "A Regra do Jogo", também prometeu não deixar impunes os ataques que sofreu.
"Pessoas públicas também têm essa missão de jogar luz sobre um tema que envolve milhões de pessoas que sofrem anonimamente todos os dias", afirma a psicoterapeuta e autora do livro "Bullying e Cyberbullying" Maria Tereza Maldonado. Para ela, atitudes de ódio na internet revelam a necessidade de revisão de valores na própria sociedade e do ensino do respeito às diferenças.
"Muitas pessoas não sabem que liberdade de expressão tem limite. Alimentar redes de ódio é crime. Liberdade de expressão supõe respeito, capacidade de dizer o que a gente pensa, porém não de maneira ofensiva. A maior parte das pessoas faz confusão com esses conceitos e se sente à vontade de falar o que bem entende. Essas descrições de ódio refletem frequentemente padrões de discriminação e preconceitos que vigoram na sociedade", afirma.
Pedro Serrão/Divulgação
A apresentadora Bela Gil
A maioria das críticas e polêmicas vieram de pessoas vazias, sem conteúdo, não me faz querer refletir sobre o assunto porque é simplesmente uma crítica boba.
Bela Gil, que não mudou sia postura após sofrer bulling na rede
Vítima de bullying na internet por suas receitas saudáveis, como o churrasco de melancia, e até mesmo por conta de uma merenda natural que preparou para a filha, a apresentadora Bela Gil diz que não dá muita bola para as ofensas anônimas que circulam na rede.
"Gosto muito de ouvir críticas construtivas, de familiares e amigos próximos, que têm conteúdo e algo de interessante para falar. A maioria das críticas e polêmicas vieram de pessoas vazias, sem conteúdo, não me faz querer refletir sobre o assunto porque é simplesmente uma crítica boba. Continuo fazendo e falando tudo o que acredito e divulgando na internet", diz.
No entanto, segundo Maria Tereza, quando os comentários passam de agressivos para criminosos, como os comentários em relação a uma participante do reality infantil "MasterChef Júnior" que tomaram conta do Twitter, a postura deve ser outra.
"Tem que fazer um filtro. Injúria, calúnia, difamação são comportamentos criminosos. Isso precisa ser denunciado e levado a debate público, para que haja um trabalho de conscientização", afirma ela, ressaltando que a discussão sobre o assunto é fundamental. "Mesmo que sejam pequenos grupos organizados, essas redes só se nutrem porque essas mensagens são compartilhadas. Quem compartilha precisa saber que isso é coautoria, que também estão contribuindo para isso", diz.
A psicoterapeuta destaca que a internet também é espaço para compartilhar projetos e ideias positivas, o que acontece numa proporção maior que as redes de ódio. E afirma que campanhas como #meuprimeiroassédio ajudam a denunciar a postura negativa. "Ela esclarece a linha divisória, precisamos ter respeito nos relacionamentos. Mulher não é objeto de passar a mão. Não é só uma brincadeirinha", afirma.

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