domingo, 20 de outubro de 2013

‘O agressor tem medo’, diz médico sobre praticantes de bullying

Especialista explica que agressor destrói o outro para poder ser aceito. E meninas, vítimas de bullying, relatam experiências de trauma e superação.


Fonte: Globo Repórter 



Rica, famosa, Gisele Bundchen tem uma carreira brilhante! Mas no início, alguém chegou a dizer que com o nariz dela, ela não iria fazer sucesso.
Rafaela nem queria ser modelo, mas acreditou que o nariz seria um problema na vida dela.
"Comecei a achar que ele era grande. E aquilo foi mudando a percepção que eu tinha de mim mesma. Eu não conseguia me ver mais da mesma maneira”, conta Rafaela Silva Santos, assistente administrativa.
Tudo começou com os meninos da escola.
Globo Repórter: O que eles faziam com você?
Rafaela: Ah, eles faziam gestos, como se eu tivesse o nariz muito grande, falavam, ‘nossa, você está roubando o meu ar, não tô conseguindo respirar. Nossa, tá me fazendo mal. Nossa, esse teu nariz!’"
Resultado: Rafaela passou a adolescência tentando esconder o nariz.
"Rabo de cavalo, aquele que você puxa todo o cabelo, era muito difícil! Na verdade, eu sempre tentava deixar um pouco de cabelo perto do nariz, ou uma franja, alguma coisa que cobrisse, assim”, explica Rafaela.
Rafaela: A gota d’água foi quando atearam fogo no meu cabelo.
Globo Repórter: Dentro da escola?
Rafaela: Dentro da escola.
Globo Repórter: Quem que fez isso?
Rafaela: Uma menina, que na verdade eu nem conhecia, não sabia nem o nome.
Globo Repórter: E pegou fogo?
Rafaela: Pegou fogo no meu cabelo, tive que cortar um bom pedaço dele, mas acima de tudo, eu tive muito medo.
 
Rafaela mudou de escola, mas a fama do nariz chegou lá antes dela. E o bullying continuou. Foi só com o tempo, a ajuda de bons amigos, que ela se libertou.

Globo Repórter: Hoje você gosta do seu nariz?
Rafaela: Hoje eu gosto do meu nariz.
Globo Repórter: Você não mudaria?
Rafaela: Não. Nem que me pagassem a cirurgia eu mudava o meu nariz.
De bem com o próprio perfil, ela descobriu que era mais forte do que pensava.
"As pessoas que praticam o bullying, são as pessoas que mais precisam de ajuda. Quem é a vítima do bullying, na verdade é vítima de uma pessoa que tá insegura. Então, ela faz o outro menor pra se sentir grande. E aí, eu percebi que não adiantava guardar nenhum ressentimento, nenhuma mágoa das pessoas. Eu precisava entender que elas precisavam mais de ajuda do que eu.", diz Rafaela.
Dr. Maurício Souza Lima, hebiatra: O agressor tem muitas fragilidades.
Globo Repórter: Que ele esconde?
Dr. Maurício Souza Lima: Ele esconde dessa forma. No fundo, o agressor tem medo de não ser aceito. Então, pra ele poder ser aceito, ele destrói o outro. E com isso, ele passa a ser aceito de uma maneira que, se a gente for ver sobre a dinâmica de um relacionamento saudável, é completamente doente.
Uma risada gostosa! Marca registrada de Reginalda. Ela esbanja confiança e simpatia. Mas as lembranças da infância não são muito alegres. Aprendeu cedo como é difícil ser diferente.
Globo Repórter: Você era a maior de todas?
Reginalda: Era, na altura e na largura.
Na escola, era a vítima preferida dos meninos.
"Além de baleia assassina, tubarão, rolha de poço, falavam que se eu caísse não levantava mais, que ía ser rolando. E além de ter o problema da obesidade, e mais a afrodescendência, o cabelo curtinho, bem afro, eu ainda na época tinha uma alergia pelo corpo todo e, aí, pronto! Era o triplo da maldade porque eles me zoavam por tudo! Eles vinham, empurravam, chamavam, ‘Ah, baleia!’ Tentavam me derrubar, eram malvados mesmo", conta Reginalda Nunes, assistente de eventos.

E era isso, dia após dia.
"Eu enfrentava aquilo. Eu era forte na frente das pessoas, eu era fraca só pra mim. Eu chegava em casa e chorava escondido", revela Reginalda.

A mudança de escola trouxe mais do que alívio, surpresa.
"E eu cheguei a  ficar assutada no outro colégio que eu fui porque as pessoas me tratavam bem. E aquilo pra mim foi chocante. Nossa!  Como assim? Porque no colégio anterior tinha uma roda de meninas e eu táva lá no meio, os meninos chegavam e cumprimentavam todas as meninas com beijinho e comigo eles pegavam na minha mão, como se eu não fosse uma menina, entendeu?", conta Reginalda.
Depois, a vida trouxe novos e bons impresvistos. Jorge e Reginalda se conheceram pela internet. Ele se apaxionou antes de saber como ela era.
Globo Repórter: Você não tinha nenhuma foto dela, ali na conversa, nada?
Jorge: Não.
Globo Repórter: E quando você viu?
Jorge: Ah, quando eu vi achei ela bonita.
Ele também viveu a angústia do bullying.
Globo Repórter: Você partiu pra cima do garoto?
Jorge: Na verdade, ele partiu pra cima de mim e aí eu mostrei pra ele como as coisas funcionavam.
Globo Repórter: E aí, ele parou?
Jorge: Parou. Nunca mais mexeu comigo. E nem ninguém.
Para Reginalda, as dificuldades não terminaram. Agora, são na vida profissional. Na disputa por um emprego, perdeu a vaga para outra candidata. Loira e magra.
 
"Era visível a atitude da entrevistadora com relação ao meu peso. Ela fazia perguntas inconvenientes em relação, por exemplo, à dieta, a coisas que não tinham nada a ver com aquele momento ali”, lembra Reginalda.
“Eu sabia que as minhas qualidades, meus cursos, eu sabia falar, tinha as qualidades pra aquela vaga, e ela foi aprovada e eu não fui. Naquele dia eu me senti muito ofendida", desabafa a assistente de eventos.

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