domingo, 13 de outubro de 2013

Fabiana Karla diz que não sofre bullying


Fabiana Karla diz que não sofre bullying
 Fabiana Karla sempre teve a autoestima elevada. Em parte, graças ao seu pai, que incentivou a atriz a sustentar seu amor-próprio.

— Cresci ouvindo que era linda. E isso me ajudou. Fui criada assim. Papai, muito obrigada! — diz a comunicativa Fabiana, aos risos, antes de completar: — Não sei se ele falava um monte de coisa boa para me agradar por eu não ter nascido com o mesmo olho azul dele e de quase todos os meus irmãos (ela tem sete irmãos por parte de pai). Mas funcionou!

Aos 36 anos, a atriz, nascida em Recife, nunca passou por qualquer constrangimento semelhante aos vividos por Perséfone. A personagem de “Amor à vida” é constantemente humilhada em cena pelo simples fato de ser gorda.

— Se eu sofri bullying não sei, passei batida. Só se foi pelas minhas costas, mas nunca percebi. Acho que sofria mais por ter cabelo enrolado e não saber dar forma a ele, que era meio repolho, meio cotonete. Sempre achei que falavam mais do meu cabelo do que do meu corpo — conta.

No começo da novela, a trama da enfermeira girava em torno da sua virgindade. Perséfone vivia num clima tragicômico e tentava arrastar um sem-número de homens para a sua cama. Chegou a ser vítima do golpe conhecido como “boa noite, Cinderela”.

— Todo mundo começou a tocar terror na Perséfone. Teve um tempo em que ela se desesperou e se jogou até para o cara que foi entregar a pizza — recorda Fabiana.

Exageros folhetinescos à parte, a atriz afirma ter tido contato com várias mulheres em situação parecida.

— Conheci muitas virgens. E me sinto quase num divãzinho com elas. Acho que é uma delicadeza escutar essas pessoas. Elas entregaram um tesouro para mim e me deram até pano para manga. Uma costureira do Projac, de 37 anos, veio me contar ter perdido a virgindade recentemente.

Na última quinta-feira, a enfermeira finalmente se casou e teve sua primeira noite com o fisioterapeuta Daniel (Rodrigo Andrade), para desagrado da família do rapaz, que não aprova a união.

Perséfone passou a ouvir todo tipo de absurdos preconceituosos nos últimos tempos. Ela já foi chamada até de gorda ridícula pela cunhada, Leila (Fernanda Machado), que ainda arrematou: “se olha no espelho, se é que você vai caber no espelho”.

— O elenco inteiro fica constrangido. A Sandra Corveloni (que faz Neide, sogra de Perséfone) olha para mim e o olho se enche d’água. Mas entendo. Além de tudo, ficam em xeque os personagens. Todo mundo vai para a fogueira. Nas ruas, as pessoas me perguntam: ‘Como você permite isso?’

O texto escrito por Walcyr Carrasco para os personagens que cercam a enfermeira às vezes é tão cruel que assusta a própria atriz.

— Esse bullying é bem puxado. Creio que é puxado para quem está assistindo também. Eu me vejo como intérprete e faço o que me é proposto. Para mim, está sendo difícil emprestar esse sentimento à personagem. Quando essas cenas começaram, pensei em pessoas próximas que já foram vítimas. Mas vou ser sincera. Passei a sentir um pouco na minha pele — confessa a atriz.

Fabiana se colocou no lugar da enfermeira para entender seu sofrimento. Ela diz ter “um pouco de dó”, mas procura não vitimizar a personagem.

— O preconceito hoje está tão alastrado que não é apenas em função de gordura, implicam até com a sua religião. Se você é espírita ou evangélico, sofre um preconceito enorme. Ninguém pode se manifestar em nada de que goste. Tudo é motivo para debate. Acho que o Walcyr quis mostrar como a sociedade pode ser cruel e que as pessoas se preocupam muito com a vida dos outros. Até com a virgindade de alguém. É uma coisa louca — reclama ela, que é mãe de três filhos.

A atriz acredita que as pessoas podem ser desastrosas até mesmo quando não têm a intenção direta de ofender:

— O que mais se escuta é: ‘Nossa, ela é gorda, mas tem um rosto lindo’. Ou seja, o corpo é uma merda, né? É a ‘mulher pantufa’. Boa para ficar em casa, mas não para sair na rua.

Para Fabiana, ter feito a peça “Gorda”, de Neil Labute, em 2010, serviu como uma espécie de estágio para entender melhor Perséfone. No espetáculo, sua personagem também era vítima de preconceito ao se apaixonar por um homem magro. No palco, chegava a ser chamada de porca, o que fez a atriz chorar nas primeiras leituras do texto.

— Eu tenho as minhas reservas, mas naquele momento o palco me protegeu. Cheguei a posar para uma capa de revista usando maiô. Virei ícone para muitas meninas. E me senti a Leila Diniz — afirma, sem esconder o sorriso.

Hoje, a atriz diz nem saber seu peso, mas conta que suas roupas “estão caindo”. Em 2011, ela saiu dos 113 quilos para os 95, depois de uma cirurgia. Fabiana optou pela técnica Lazzarotto e Souza, em que um anel é colocado no intestino do paciente. Diz não ter feito o procedimento por uma questão estética e, sim, por mais qualidade de vida.

— Eu posso comer tudo. Não conseguiria ficar limitada. Três das minhas irmãs fizeram redução de estômago. Não sei se iria segurar essa onda. A técnica do anel foi a melhor para mim. Mas mudei meu paladar, que ficou menos infantil — diz.

Fabiana faz questão de esclarecer que nunca fez apologia a nada. E garante estar satisfeita da maneira que é.

— Modéstia à parte sou uma pessoa bem-sucedida no meu trabalho, sou aceita como eu sou, consigo me vestir bem. E acredito que sei lidar até melhor com as minhas formas do que quando eu tinha 60 quilos. Hoje, eu me sinto mais bonita. O meu filho estava me dizendo esses dias: ‘Mãe, se você fosse magra, não seria tão bonita’. A galera compra meu barulho. O meu marido é uruguaio, gosta de carne, então está tudo certo.

Depois de interpretar a fogosa Olga ano passado em “Gabriela”, também escrita por Walcyr, Fabiana conseguiu um feito inédito. Além de “Amor à vida”, está no ar no humorístico “Zorra total”, que diz ser o seu playground:

— Não largo o osso. Ali pude mostrar minha veia cômica, pude cantar e dançar.

Apesar de ter exibido várias caras na TV, foi só agora com Perséfone que Fabiana surgiu no vídeo com uma imagem mais próxima da vida real.

— Gosto do fato de poder me modificar para os personagens. Mas eu me assustei um pouco quando me vi sem uma peruca, sem caracterização. Eu me senti a Fabiana Paes (diz, em referência à Juliana Paes). Era só olho no vídeo — ri.
Fonte: PB Agora

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