sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Bullying de irmãos: quando a briga passa do limite

É natural que seus filhos se estranhem de vez em quando. Mas atenção para quando a agressividade se torna repetitiva e nociva

Por Luiza Tenente
briga; bullying; irmãos (Foto: Thinkstock)
“Foi ele que começou!” “Não gosto mais de você!” Seus filhos dizem essas frases com frequência, certo? Não se preocupe, é comum que irmãos briguem. Afinal, disputam atenção e amor dos pais – ainda não entendem que você é capaz de se dedicar a todos os filhos. O primogênito pode ficar com ciúmes do caçula e querer garantir seu espaço, por exemplo. É uma rivalidade esperada. Mas é necessário tomar cuidado: em alguns casos, o conflito toma proporções maiores e há troca de ofensas, perseguição e violência física. Afinal, como saber se as brigas viraram bullying?

Caberá aos pais ficar atentos à postura e ao relacionamento de seus filhos. Um critério importante é analisar se há repetição de comportamento agressivo. Nos casos preocupantes, os conflitos não são episódicos, e sim frequentes. “Não há rodízio de papéis: sempre é a mesma pessoa que agride e a mesma que é vítima. O esperado seria que houvesse um revezamento”, explica Vera Zimmermann, psiquiatra infantil da Unifesp (SP). Por isso, sempre verifique se a relação de poder dos seus filhos é desigual.
Outro sinal característico de bullying é a alteração no termômetro de reações. Conforme esclarece Gustavo Teixeira, psiquiatra e psicoeducador especialista em transtornos comportamentais, a vítima passa a ter problemas em sua vida social e no desempenho escolar. “A criança fica com dificuldade em fazer amizades e em interagir. Os estudos também são prejudicados”, afirma. Não há como fazer um exame para descobrir se o problema existe, como em outras patologias. A avaliação da saúde mental depende da observação constante do comportamento. Por isso, fique sempre de olho!
O que fazer?

Após brigas comuns entre as crianças, você pode deixar que elas tentem se resolver e encontrar uma solução para o conflito. Caso estejam disputando um brinquedo, por exemplo, podem treinar a capacidade de argumentação e encontrar uma forma de dividir o objeto. “Será bom para a maturidade delas que solucionem a briga sem a ajuda de um adulto”, diz Silvia Maria Gonçalves, psicóloga da Hospital São Luiz Jabaquara (SP). Mas, se você analisar a situação e perceber que está passando do limite do aceitável, não hesite em intervir. Constatar que um filho está praticando bullying com o outro é doloroso, mas exige uma postura firme. Chame as crianças, primeiro individualmente e depois juntas, para conversar. Diga que o comportamento agressivo é grave e não será tolerado. Estabeleça as regras: diante de determinadas atitudes, como xingamentos, uso de palavrões ou violência física, por exemplo, vai haver um castigo específico (jamais com violência, claro!). Também deixe claro que, quando alguém se sentir ofendido, pode pedir ajuda e contar com o apoio dos pais.
É importante verificar se a mesma postura das crianças – de vítima ou de agressora – está sendo assumida na escola e em ambientes fora do lar familiar. Converse com o coordenador do colégio e pergunte se ele percebeu algum problema de relacionamento dos seus filhos com os colegas. Se sim, peça apoio para lidar com a situação. Caso o bullying persista, mesmo após diálogos, procure a ajuda de um especialista  - pode ser um psiquiatra ou um psicólogo infantil.

O profissional ajudará a descobrir o que motiva o comportamento hostil. De acordo com Gustavo Teixeira, as causas variam. “É possível que o agressor tenha sofrido violência de outra pessoa e repita o comportamento no irmão ou que sinta que seus atos não serão punidos. Há também problemas psicológicos que podem explicar a postura. Depende da criança, não dá para generalizar”, explica.

As consequências também variam – não é possível prever se haverá um trauma ou se a criança sairá ilesa. “Em alguns casos, o bullying gera um sentimento difícil e a vítima tem dificuldade de se recuperar da mágoa”, esclarece Rita Lous, psicóloga do Hospital Pequeno Príncipe (PR). Para investigar os danos a longo prazo, cientistas das Universidades de Oxford, Warwick, Bristol e College London, no Reino Unido, distribuíram um questionário a famílias de 7 mil crianças de 12 anos, em 2003 e 2004. Dez anos depois, analisaram a saúde mental das 786 que alegaram sofrer bullying dos irmãos na infância. No grupo que foi vítima, houve o dobro de casos de depressão (12,3%), automutilação (14%) e ansiedade (16%) do que nos demais.  

O que fazer para prevenir que isso aconteça na sua família? Tente estimular o sentimento de alteridade, ou seja, faça com que a criança se imagine no lugar da outra. Diga: “Você gostaria de ser xingado ou deixado de lado? Como se sentiria? Então não faça isso com seu irmão, nem com ninguém.”  E mais: preocupe-se em dar o exemplo para as crianças. De nada adianta dizer a elas que brigar é reprovável se ela observar que os pais trocam xingamentos com frequência. Num lar amoroso, em que todos se respeitem, os filhos absorverão valores como ética e amor.
Fonte: Revista Crescer Globo

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