sábado, 17 de dezembro de 2016

Cartilha ajuda a combater cyberbullying dentro e fora das escolas

Carlos Araújo - carlos.araujo@jcruzeiro.com.br




 
Na era da internet e do celular, quem trabalha para enfrentar o bullying nas escolas tem agora um instrumento de referência para saber como agir diante de casos desse tipo. Cientes de que o problema é abrangente e está enraizado na sociedade, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Secretaria de Estado da Educação criaram a cartilha denominada Guia do Professor sobre Prevenção ao Bullying. E essa prática, além de marcar o relacionamento direto entre as pessoas, também se manifesta no mundo virtual. Nessa plataforma, recebe o nome de cyberbullying.
 
Lançada no dia 1º de dezembro, a cartilha reúne questões legais e éticas que devem ajudar o atendimento ao problema do bullying dentro e fora de sala de aula. A proposta é que esse conteúdo se some ao trabalho já realizado na rede estadual com os "professores mediadores" e o Sistema de Proteção Escolar. Desde 2010, o programa capacita educadores para atuar diretamente na prevenção e mediação de conflitos em unidades de Ensino Fundamental e Médio.
 
Para a elaboração da cartilha, a união de um órgão especializado na advocacia com uma secretaria de Estado focada na educação tem tudo a ver. Isso porque, a questão jurídica e o ensino se tocam nas ocorrências de bullying e cyberbullying. No primeiro caso, uma ofensa direta pode ferir moralmente uma vítima com ou sem nenhuma testemunha. No cyberbullying, a ofensa pode ganhar proporções gigantescas por meio da internet e, em consequência, atingir horizontes mais graves e que, em casos extremos, podem levar a vítima ao suicídio.
 
Leque de perigos 
 
Essa atenção é necessária porque atualmente celulares e smartphones se popularizaram nas mãos dos estudantes. Para a professora e advogada criminalista Carolina Defilippi, ao mesmo tempo em que esses aparelhos trazem benefícios, também podem representar perigos. E esse alerta vale, ela acrescenta, tanto para as crianças como vítimas quanto para as crianças e adolescentes como autores e praticamente de bullying.
 
Na análise de Carolina, a tecnologia pode ser muito boa quando traz informações, aproxima as pessoas, facilita a comunicação. Lembra que hoje é possível assistir, pela internet, uma aula na celebrada universidade norte-americana de Harvard. A instituição disponibiliza uma série de cursos gratuitos, iniciativa igualmente executada por outras grandes universidades do mundo, o que só é possível por conta da tecnologia, "por outro lado, a tecnologia trouxe para as pessoas uma impressão de anonimato, como se você pudesse falar tudo o que quiser porque vai ficar impune, anônimo", ela descreve. "É por trás dessa crença que nasce o cyberbullying. As crianças e adolescentes acham que podem falar qualquer coisa porque estão por trás de uma tela. Isso não é verdade. As pessoas perderam a noção do grau de exposição. Falam de si em rede, a exposição é gigantesca, é exponencial, e o crime se torna extremamente mais grave."
 
Carolina compara: "Uma coisa é uma ofensa pessoal, cara a cara, e outra coisa é uma ofensa na rede social, porque a exposição é infinitamente maior". E explica que, por isso, "o bullying cometido numa rede social é causa de aumento de pena nos crimes contra a honra."
 
Perguntada sobre a responsabilidade dos pais na vigilância e monitoramento dos filhos quanto ao uso dos aplicativos, Carolina é enfática: "É importante lembrar que juridicamente os pais são responsáveis pelos atos dos seus filhos. Se uma criança ou adolescente faz uma ofensa, os pais podem ser obrigados a indenizar a vítima. Os pais têm essa responsabilidade no direito civil. Por isso que essa vigilancia não é só necessária, ela é obrigatória."
 
Principal papel 
 
Na sua visão, o principal papel, tanto dos pais quanto da escola, é mostrar para os filhos e alunos que o bullying tem consequência. E adverte que "o grande perigo" é a omissão dos pais ou responsáveis. Segundo ela, a pessoa que faz bullying se alimenta da presunção de impunidade atrás da tela do celular. E, como a exposição é muito grande nas redes socias, assim que é deflagrado, o bullying não consegue ser contido. Para a vítima, as consequências são graves.
 
Professor 
 
O professor coordenador do Núcleo de Tecnologia da Diretoria Regional de Ensino de Sorocaba, Fernando Oliveira de Carvalho, avalia que a era digital permite que as pessoas tenham um computador de bolso, que é o celular, e que deve ser usado para fins pedagógicos: "É uma ferramenta maravilhosa que dá para carregar no bolso, e tem muito aplicativo educacional."
 
Ele lembrou que no mês passado um projeto do Executivo estadual foi enviado à Assembleia Legislativa com o objetivo de permitir o uso do celular em sala de aula para fins pedagógicos. Pela legislação atual, o uso é proibido. A finalidade é que a nova leia esteja valendo já para o ano que vem.
 
Na sua opinião, o aparelho proporciona liberdade de compartilhamento de arquivos e aplicativos. Ele considera que o professor, na preparação da aula, tem os meios para dominar o uso do celular entre os alunos, e também têm à disposição inúmeros conteúdos para transmissão, sem a necessidade de ter que sair da sala de aula para acessar uma sala de multimeios.

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