No Brasil, entrou vigor este ano a Lei 13.185/15, que obriga as instituições a combater o bullying a partir de quatro linhas de ação: capacitar docentes para prevenir e resolver o problema, orientar familiares para identificar vítimas e agressores, realizar campanhas educativas e fornecer assistência psicológica e jurídica a vítimas e agressores. Pelo texto da lei, a punição deve ser, sempre que possível, trocada por atividades voltadas para a mudança de comportamento.

Algumas experiências de sucesso parecem confirmar que esse é o caminho mais indicado. Na Argentina, por exemplo, um dos países da América Latina com maior número de denúncias de bullying (inclusive com episódios recentes de suicídios de estudantes), as escolas tem relatado conquistas significativas com atividades que estimulam o relacionamento interpessoal, na quais os jovens podem compartilhar suas dúvidas e seus talentos e se reconhecer como pessoas que têm sentimentos e precisam ser ouvidas e valorizadas.

Num colégio de ensino médio, por exemplo, os alunos costumavam fazer raps para se insultar mutuamente. Os diretores perceberam que, com as sanções, em poucos dias os jovens voltavam a agir do mesmo modo. Então a escola decidiu tentar colocar os estudantes como protagonistas da solução. Convidou-os a uma oficina de trabalho sobre os problemas típicos da idade, no qual os jovens poderiam descrever as suas emoções e também interpretá-las com raps.

O resultado foi surpreendente. Enquanto esses jovens pouco conversavam sobre suas vivências com os professores, nas músicas, eles expressaram seus medos e angústias relacionadas ao que passavam na escola. Além de servir como desabafo, a atividade os levou a discutir o problema. O rap ganhou um sentido solidário e transformador.

No Colorado, onde ocorreu o massacre de Columbine (quando dois estudantes sentiram a necessidade de se vingar do que haviam sofrido, deixando 15 mortos), diversas escolas instituíram a prática de ioga na escola primária, para ensinar as crianças a gerenciar o estresse e a raiva. Os estudantes aprendem a filosofia, as posturas e a respiração da ioga, além de técnicas de concentração. Os alunos relataram diminuição de 60% em seu próprio comportamento “agressor” e 42% de redução das intimidações que sofriam.

Vale levar em conta, ainda, o programa KiVa, aplicado nas escolas da Finlândia. Ele não coloca o foco só na vítima ou no agressor, mas sim nas testemunhas do bullying, para que entendam a importância de seu papel. Busca-se educá-los para que não aceitem passivamente as agressões que presenciam, nem deem força aos agressores, mas que intervenham e apoiem as vítimas, a fim de influenciar positivamente no comportamento do grupo.

Se por um lado, não há uma receita única para lidar com o grave problema do bullying, por outro, as experiências bem sucedidas sugerem que, em vez de punições, criar oportunidades para que os jovens assumam seu protagonismo e se tornem parte da solução pode ser um dos melhores caminhos