segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A árvore que não dá frutos

A árvore que não dá frutos é xingada de estéril. Quem examina o solo? Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Ninguém diz violentas as margens que o cerceiam. Bertolt Brecht.

Dan Olweus classifica três tipos diferentes de agressores: o bully agressivo, o passivo e o bully vítima. Comportamentos de bullying surgem de formas variadas: físicas, verbais, sociais e relacionais. E quando se trata de maldade, as crianças e adolescentes têm uma criatividade incrível. É difícil relacionar todos os comportamentos que compõem uma situação de intimidação.

BULLYING físico: bater, dar cotoveladas e empurrões, forçar com o corpo, colocar o pé na frente. Chutar, roubar, danificar ou desfigurar pertences. Beliscar. Enfiar a cabeça de outra criança no vaso sanitário. No armário. Cuspir. É importante não minimizar esses comportamentos. Todos são danosos. Uma menina de 8 anos, relatou no fim do ano, que o garoto que sentava atrás dela, havia beliscado suas costas o ano inteiro. Ela apresentava hematomas por toda a região. A professora não sabia que isso aconteceu, porque a menina tinha medo de contar.

BULLYING verbal: às vezes pode ser mais doloroso que o físico. Apelidos, comentários insultuosos e humilhantes. Comentários racistas e assédio. Cochichar pelas costas. E os bullies são bons nisso, não tem dó nem piedade. Para isso acontecer, basta olhar a si mesmo, e ver os “seus” defeitos. Quem não os tem? A perfeição não é privilégio do ser humano. É urgente uma cultura de paz nas escolas, é uma das principais matérias a ensinar, talvez a mais importante. Partindo dela, o caminho será mais fácil.

BULLYING social e relacional. A maioria pensa sobre bullying físico e verbal. Mas destruir relacionamentos, jogando melhores amigos um contra o outro, destruir reputações, fofocar, espalhar rumores maliciosos e cruéis, mentiras, excluir o indivíduo do grupo, pichação, ou bilhetes com mensagens ofensivas, é terrível. Ele acontece em quase todos os lugares. Nos lares, nos bairros, na comunidade e nos locais de trabalho. Quem já não foi chamado de bichinha, viado, bâmbi, gay, rolha de poço etc… quem não teve (ou tem) um patrão homofóbico, um colega de trabalho ou de sala de aula, homofóbico? pais homofóbicos?

Mais recentemente, a tecnologia deu nova cara ao problema. E-mails ameaçadores, mensagens negativas em sites de relacionamento e torpedos com fotos e textos constrangedores para a vítima. Foram batizados de CYBERBULLYING. E talvez, hoje, seja o mais cruel. Prevalecem entre as meninas. Violência virtual. E como o espaço virtual é ilimitado, o poder de agressão se amplia e a vítima sente-se acuada mesmo fora da escola. Pior: muitas vezes ela não sabe de quem se defender. No Brasil vem aumentando rapidamente o número de casos de violência desse tipo.

Motivos que tornam o CYBERBULLYING mais cruel que o bullying tradicional: no espaço virtual, os xingamentos e as provocações estão atormentando as vítimas. Antes, o constrangimento ficava restrito aos momentos de convívio dentro da escola. Agora é o tempo todo. Os jovens utilizam cada vez mais ferramentas de internet e de troca de mensagens via celular, e se expõem mais do que devem. A tecnologia permite que, em alguns casos, seja muito difícil identificar o (os) agressor (es), o que aumenta a sensação de impotência.

Com o bullying tradicional, bastava sair da escola e estar com os amigos de verdade para se sentir seguro. Agora, com sua intimidade invadida, todos podem ver os xingamentos e não existe fim de semana ou férias. O espaço do medo é ilimitado.

Isso me faz lembrar uma introdução (comentário) de Rose Marie Muraro no livro “O Martelo das Feiticeiras”, escrito em 1484, por dois inquisidores, quando as bruxas eram queimadas em fogueiras: a aceleração tecnológica mostra-se muito mais louca do que o mais louco dos inquisidores. Creio que com isso as bruxinhas da Idade Média podem se considerar vingadas.

“Difícil é a estrada em que não temos amigos para compartilhar o seu percurso”. Todos devem se engajar nessa luta.

Carpe diem. (aproveite o dia).
Consulta: acervo particular

(*) Gilda Proença, licenciatura em Letras Anglo-Portuguesas - Universidade Estadual de Londrina – UEL – PR. Especialização em Metodologia em Pesquisa Educacional - UFMT – Rondonópolis - MT.
Sugestão de leitura - (Para alunos)
“A FACE OCULTA”, de Maria Tereza Maldonado. É uma história de BULLYING e CYBERBULLYING.

Fonte: A Tribuna de Mato Grosso

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