sábado, 2 de fevereiro de 2013

Vigilante morreu ao tentar travar violência escolar

Homem tentava controlar aluno quando teve paragem cárdiorespiratória. Tudo começou com uma briga

  • Edição Público Lisboa
  • Matosinhos Ana Cristina Pereira e Patrícia Carvalho
Nada faria prever uma reacção tão violenta como a que teve ontem de manhã na EB 2,3 Óscar Lopes, em Matosinhos. O rapaz de 15 anos nunca antes terá reagido assim. Desentendeu-se com um colega numa aula de Educação Física. O professor por quem tinha maior simpatia mandouo sentar-se e serenar. Temendo que a contenda pudesse continuar, acompanhou os alunos até ao balneário. Não se enganou. A partir dali, desencadeou-se um processo de violência que acabou por revelar-se fatal para um funcionário.

Tomado por um sentimento de injustiça, o rapaz ter-se-á virado ao colega. Quando mais tentariam acalmá-lo, mais irritado ficaria. Tanto que terá desatado a agredir quem lhe fez frente. Dois vigilantes acorreram ao local para o controlar e conduzir à direcção. Na antecâmara do gabinete, terá empurrado mesa e cadeiras, atirado objectos ao chão, agredindo a subdirectora e outras pessoas que lá estavam. Os agentes agarraram-no e, nesse momento, um deles teve uma paragem cárdio-respiratória e morreu.

Era de manhã. O piquete da Polícia de Segurança Pública registou a chamada às 10h45. Primeiro, levou-o para a esquadra para o interrogar, depois para o Tribunal de Família e Menores. Às 20h ainda lá estava. Foi-lhe decretada uma medida cautelar de internamento em regime semiaberto. Seria conduzido para um centro educativo, onde aguardará o julgamento, que terá de ocorrer no prazo de três meses.

“A morte do segurança não pode ser imputada ao jovem”, explicou o vereador da Educação, Correia Pinto. “Era um agente aposentado da PSP, com 56 anos, com um historial cardíaco conhecido. Segundo me disseram, tinha até uma intervenção marcada. A agressão ao elemento da direcção foi desagradável e tem que dar processo.”

O rapaz fora retirado à família no âmbito de um processo de promoção e protecção de menores. Teria uma família desestruturada, inapta. Fora acolhido pela Casa do Vale, estrutura destinada a rapazes entre os 12 e 18 anos, todos desprotegidos, alguns capazes de assumir comportamentos tipificados como crime.

Frequentava o 8.º ano. Não sobressaía pela pontualidade, nem pela assiduidade. Pelo contrário. E acontecia reagir de forma despropositada, por vezes agressiva. Mesmo assim, não se esperava que reagisse como ontem. Muito menos que “tivesse o azar” de este súbito ataque de violência ficar associado à morte de um homem.

À tarde, no tribunal, houve uma pessoa que lhe perguntou: “Então, mataste um homem?” O rapaz nem queria acreditar. Estava tristíssimo. Com ele estava uma técnica do lar, a tentar ajudá-lo a lidar com tudo aquilo. Era ela quem o acompanharia ao centro educativo, mal chegasse a PSP.

A EB 2,3 Óscar Lopes tem as suas histórias. Nela estudam miúdos de dois dos mais mal afamados bairros de Matosinhos — Cruz de Pau e Biquinha. Por a escola ter “algumas especificidades em termos de comportamentos”, diz o vereador, o Ministério da Educação contratou dois antigos polícias para garantir a segurança. E foram eles que tentaram controlar o aluno. Um deles não aguentou. Uma equipa do Instituto Nacional de Emergência Médica tentou reanimálo. Antes já outras pessoas o tinham tentado salvar.

O vigilante era muito estimado pela comunidade escolar. A direcção da EB 2,3 Óscar Lopes decidiu suspender as aulas da parte da tarde. A sua intenção era não abrir hoje. “Os professores querem promover uma conversa com todos os alunos para tentar, de uma forma organizada e estruturada, analisar o que se passou”, explicou o vereador. A Direcção Regional do Norte, porém, decidiu que as aulas seriam retomadas.

 

Deslocou-se ao estabelecimento de ensino o delegado de Educação da Região Norte. “A escola suspendeu o aluno preventivamente, nos termos do Estatuto do Aluno e Ética Escolar, e abriu um processo de inquérito”, salientou por escrito, o assessor do ministro da Educação

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