domingo, 9 de abril de 2017

Todos os olhares sobre o bullying

O TEMPO

Criação de hashtag e repercussão nas redes sociais representa comoção que série da Netflix tem provocado

LAURA MARIA
“Thirteen Reasons Why” (“Os 13 Porquês”, em português) tem causado grande comoção em redes sociais desde que foi disponibilizada pela Netflix no último dia 31. Nessa quinta-feira (6), a atriz Vera Holtz postou no Twitter: “O ano ainda nem acabou, mas já considero (‘Os 13 Porquês’) como uma das melhores séries de 2017. Até agora eu ainda não superei”. O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), ativo nas redes sociais, lançou a hashtag #NãoSejaUmPorquê. Não demorou muito para a iniciativa ganhar a adesão de outros usuários, que têm postado frases de motivação para quem sofre bullying e feito alertas para a conscientização sobre comentários ofensivos a outras pessoas.
A campanha online de Wyllys diz respeito aos motivos que levaram a protagonista Hannah Baker (Katherine Langford) a cometer suicídio depois de sofrer bullying dos colegas de escola. Com a hashtag, o deputado federal quer alertar os adolescentes sobre as graves consequências que a prática pode trazer. “Quis falar sobre como o bullying afeta adolescentes, especialmente no ambiente escolar, ao direito da educação, que é uma das pautas que eu levanto. Acho muito importante falar sobre isso porque, pelo menos a cada duas semanas, recebo uma carta de um adolescente dizendo que vai se matar por razões como o bullying”, afirma.

O político baiano, que ressalta não ter qualquer tipo de relação com a Netflix, afirmou que se identificou com a história de Hannah. “Hoje sou um adulto de 42 anos, mas também já fui adolescente e sei o que é enfrentar essa violência. Quando me assumi homossexual, aos 16 anos, sofri muito com o bullying, sentia que todos estavam me olhando e era xingado nos corredores da escola”, conta.
A psicóloga Lilian Amaral avalia que a comoção nas redes se deve ao fato de, apesar de ser tão comum, o bullying é um comportamento velado. “A série traz à luz a questão para os dois lados. Espectadores têm a oportunidade de se verem representados e identificados como vítimas e como agressores. Se para o primeiro grupo (o que sofre bullying) pode vir como oportunidade de dar voz à reação, ao segundo (ao que pratica o bullying) deverá trazer maior consciência das consequências desses atos”, afirma Lilian.
Trama. Baseada no livro “Os Treze Porquês” (Ática, 256 págs., R$ 42,95) lançado em 2007 pelo norte-americano Jay Asher, a série conta a história de Hannah Baker (Katherine Langford), que deixa uma série de gravações em fitas cassete apresentando os 13 motivos pelos quais cometeu suicídio. As gravações, executadas por Clay Jensen (Dylan Minnette), são direcionadas aos colegas de escola de Hannah que provocaram algum tipo de sofrimento nela, culminando em sua morte.
Uma das produtoras da série é Selena Gomez. A atriz, de 24 anos, comprou os direitos do livro quando foi lançado e chegou a ser cotada para o papel da protagonista, mas não o fez por causa de sua idade. Em entrevista à revista “The Hollywood Reporter”, Katherine e Selena deram indícios sobre uma possível continuação da série.
Cruel. A identificação, aliás, é um dos motivos para que “Os 13 Porquês” tenha se popularizado tão rapidamente, como é o caso da advogada Bárbara Nídia. “Não sofri da mesma forma que a personagem, mas sofri bullyings cruéis também”, diz.
O caso se repete com a jornalista Luna Pontone. “Eu me identifiquei. Comecei a pensar em tudo que eu possa ter feito de maldoso na escola, porque todo adolescente é cruel”, conta.
A analista de marketing Bruna Moreira também se identificou. “Como mulher, me reconheci no lugar da protagonista várias vezes, principalmente as partes em que ela sofre slut-shaming e assédio”, afirma.

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