terça-feira, 4 de abril de 2017

Gibraltar queixa-se de “bullying” espanhol por causa do "Brexit"

SAPO PT

O estatuto da possessão britânica, que se situa na ponta sul de Espanha, sempre foi uma fonte de tensão entre os dois países, mas as negociações do Brexit elevaram a temperatura e já há quem fale de guerra.

Gibraltar novo foco de tensão entre Reino Unido e União Europeia. Foto: Andres Carrasco Ragel/EPA

O líder de Gibraltar diz que o seu território está a ser vítima de uma campanha de “bullying” orquestrada por Espanha, com a cumplicidade de Donald Tusk, o presidente da Comissão Europeia, que se está a comportar como um “marido traído”.

Numa primeira versão das linhas orientadoras da União Europeia para as negociações com Londres, há uma referência explícita a Gibraltar e está estipulado que Espanha terá direito a veto em qualquer futuro acordo entre o Reino Unido e a União Europeia que refira o território.

A introdução desta alínea, apesar de ainda ser numa versão preliminar, enfureceu os britânicos, com um antigo líder do Partido Conservador a dizer que o país estaria disposto a ir para a guerra por causa de Gibraltar, como fez há 35 anos com a Argentina, por causa das ilhas Falklands. A imprensa conservadora e sensacionalista foi atrás da polémica e denunciou as autoridades europeias e espanholas, enquanto o Governo tentou um tom mais conciliador, dizendo que prefere esperar para ver o texto definitivo. Questionado sobre as referências à guerra, um porta-voz da primeira-ministra Theresa May disse simplesmente que “não vai chegar a isso”.

Mas o ministro-chefe de Gibraltar, Fabian Picardo, lamentou a posição da União Europeia e mais especificamente de Espanha. “O sr. Tusk, que é dado a fazer analogias sobre divórcio, está a portar-se como um marido traído que se vinga nos filhos”.

“Não somos uma moeda de troca e não aceitamos ser vítimas do brexit porque não somos os culpados do brexit. Nós votámos para permanecer na União Europeia, por isso vingarem-se de nós é permitir o ‘bullying’ espanhol”, diz Picardo.

Na altura do referendo a esmagadora maioria dos gibraltinos votaram a favor da permanência na União Europeia, mas não há qualquer indicação de que a saída tenha afectado a sua lealdade à Grã-Bretanha que ficou bem expressa num referendo interno em 2002 quando 98% rejeitou mudar o estatuto da “Rocha” Para permitir soberania partilhada por Espanha. O responsável pela pasta Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Boris Johnson, já disse publicamente que o brexit em nada altera o estatuto de Gibraltar, nem vai alterar.

Gibraltar foi cedida ao Reino Unido em 1713 com o tratado de Utrecht, a título perpétuo. Contudo Espanha, que para além de ocupar Olivença – território reivindicado por Portugal – e ter dois enclaves em África, Ceuta e Melilla, insiste que Gibraltar devia voltar para a sua posse.

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