sábado, 15 de abril de 2017

“É realmente importante falar sobre bullying. Não é ‘papo de gente fresca dessa nova geração'”

 - 14 de abril de 2017
Bella Prudencio, de apenas 19 ano, conta como enfrenta a depressão e faz um alerta: "É realmente importante falar de bullying. Isso é sério e só piora com as facilidades da tecnologia".
Bella Prudencio, de apenas 19 anos, conta como enfrenta a depressão e faz um alerta: "É realmente importante falar de bullying. Isso é sério e só piora com as facilidades da tecnologia".
por Bella Prudencio

“Estou tão feliz, hoje encontrei meus amigos na minha cabeça.”
As palavras da letra de Kurt Cobain são reais pra mim a partir do momento em que eu e ele tomamos o mesmo remédio, este que deu origem a música Lithium.
Faz um tempo que lido com a depressão, assim como 4,4% da população mundial. Junto com ela vêm a ansiedade e as tendências suicidas, que nunca chegaram a se concretizar. Ainda bem.
É delicado falar sobre isso, principalmente porque não gosto de misturar questões pessoais com a minha carreira, mas tendo em vista poder ajudar pessoas e fazer com que meu relato chegue mais longe, eu me entrego às palavras.
Tudo isso tem origem em tempos longínquos, durante a escola.
Tipo a Hannah de Os 13 Porquês, os meus agressores estavam tão imersos dentro de suas mentes, em suas próprias vidas, que sequer perceberam que me traumatizaram. Hoje, já perdoei todos e sou inclusive amiga de alguns, pois sei que a criança que me agrediu não é o mesmo jovem adulto que está lá hoje.
Porém, mesmo tendo perdoado a pessoa, o coração nunca entendeu de fato o que estava acontecendo e colecionou pequenas feridas que foram só aumentando e aumentando.
Já apanhei na escola, já fui acusada de roubo, já tive meus óculos quebrados e jogados no lixo, já tive meus convites de aniversário (feitos à mão) rasgados na minha frente
Foram inúmeros episódios, inúmeras palavras dolorosas: “feia”, “porca”. Tantas vezes repetidas que comecei a achar que eu era realmente feia e porca.
O pior episódio aconteceu em 2008, quando eu tinha 11 anos e fui pressionada a dar um selinho em um garoto numa festinha. A questão é que mais tarde descobri que ele tinha ganhado 25 reais para me beijar.
Me senti como se eu fosse escória, como se só pagando alguém teria coragem de ficar comigo. Foi um sentimento péssimo. Eu estava em um circo e a atração principal era eu.
Conforme o tempo foi passando, comecei a desenvolver a tristeza de quem vive achando que é algo que não é. A opinião dos outros na minha vida passou a ser importante para mim, mesmo que não refletisse a realidade.
Comecei a me isolar, a desacreditar de mim, a viver sozinha e a procrastinar. Fui muito dura e radical comigo mesma em alguns momentos.
Com a depressão veio à ideação suicida, que nunca saiu da ideação.
A ideia de se matar vem do pensamento de que talvez você não seja tão importante assim para as pessoas
Algumas vezes cheguei a me machucar.
Chorei muito, tive crises de autoestima e, mesmo em tratamento, tenho até hoje. Sempre me comparando com alguém, sempre achando que nada iria dar certo, que eu não era boa o suficiente, admirada o suficiente, desejada o suficiente.
Por muitas vezes desejei ser outra pessoa. Mesmo quando eu tinha admiradores.
É realmente importante falar sobre bullying.
Não é “papo de gente fresca dessa nova geração”, é algo sério e que só piora com as facilidades da tecnologia e de um mundo feito de cristal, ao melhor estilo Black Mirror, como o da nossa época.
Uma vez ouvi que palavras são como flechas, uma vez atiradas, elas jamais voltam.
Queria ter dito isso para aquelas crianças, mas será que elas iriam entender? Será que teriam noção de como aquelas palavras e atos me machucaram tanto que doem até hoje? Infelizmente nessa idade há pouca noção sobre isso e geralmente as escolas pouco fazem sobre esse assunto.
Atualmente eu estou bem.
Estou me recuperando e estou feliz com meus resultados. Descobri a mim mesma na escrita e dela não quero me separar. Aprendi a fazer amigos também. Agora mesmo, enquanto escrevo, estou cansada porque voltei de uma festa que fui com eles.
No amor, apesar de às vezes achar que ele preferiria estar uma pessoa melhor, até que estou bem, namorando há um ano e meio.
É difícil lidar com a depressão, é difícil acordar todos os dias e pensar: “tenho que sobreviver mais um dia”
Mas tudo se torna um pouco melhor quando se há boa vontade em fazer tudo acontecer.
É prazeroso de ver que minha vida amorosa não é um martírio e que eu consigo, e posso, fazer amigos e finalmente poder sair de casa com eles.
Se você me perguntar o que fazer com uma pessoa como eu, eu te respondo: faça com que ela se sinta valorizada. Isso é algo que nada no mundo pode substituir.
Estou tão feliz, hoje encontrei meus amigos na rua.


Bella Prudencio, 19, é apaixonada por rock alternativo, jogos online e gatinhos. Começou a escrever para a internet em 2012 e nunca mais parou.
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