sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Estruturas precárias, alunos desmotivados. Educação com qualidade é uma dívida que Estado tem com os alagoanos

Balanço 2011: tetos de escola desabando e decreto de situação de emergência marcaram o ano educacional em Alagoas

Por Marcela Oliveira


Jose Carlos tenta imitar o que professora escreve no quadro

Com um sorriso tímido, José Carlos Heleno da Silva, 10 anos, conta que o que mais gosta em sua escola é da merenda e da hora da educação física, mas reclama porque tem que jogar debaixo de um sol escaldante, porque a quadra não é coberta. Ele está no 3º ano, no entanto, ainda não sabe ler. Em toda turma, apenas ele e mais um colega continuam analfabetos.

Essa é a mesma realidade da adolescente M.T., 15 anos, que por motivos de vergonha preferiu não revelar o seu nome. E por quê? Porque ela está no 7º ano e também não sabe ler nem escrever.

Ela e José Carlos fazem parte da estatística divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que no mês passado apontou que Alagoas é o Estado campeão em analfabetismo no país. Segundo os dados, a taxa é de 24,3%, ou seja, 13% maior que a média nacional que é de 9,6%. O Estado também tem as piores notas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e lidera as taxas de evasão escolar.

Reconhecendo o estado precário das escolas estaduais, em setembro deste ano, o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) decretou situação de emergência na educação, após os tetos de algumas escolas desabarem e em algumas delas alunos foram feridos.

 
Sem avanços

Marcela Oliveira
Capristano comemora conquistas dos pr...

Para a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinteal), Célia Capristano, do ponto de vista do aluno, o ano de 2011 não se teve muito que comemorar. “Foi ano de muita promessa e pouco avanço. Além de muito susto com escolas caindo a cada 10 dias, a violência foi campeã nas escolas”. A sindicalista afirma que Alagoas continua na contramão da história.

Segundo Capristano, 2011 foi um ano de muitas dificuldades pedagógicas, mas ela salienta que para os professores foi de luta e avanço sob o aspecto do reajuste salarial que passou de 5,91% para 7%, além da implantação do piso salarial de R$1.187,00 para o magistério.
 

Desafio de um professor

Professora há seis anos, Maria Célia conta que o maior desafio do professor de uma escola pública é a falta de estrutura. “Se não tiver estrutura de trabalho não dá para fazer bons trabalhos. Pode até ter boas ideias, mas sem estrutura ficamos de mãos atadas. Até as atividades extra-classe são feitas em sala de aula porque não temos espaço adequado. O que temos é quebrado”.

 
Reformas

UOL
Teto da Escola Estadual Dom Constanti...

Atrelado ao decreto de urgência, está um plano de recuperação de 163 escolas que apresentam riscos na infraestrutura. A reforma envolve a liberação de R$ 40 milhões. O secretário de Estado da Educação e do Esporte (SEE), Adriano Soares, disse que, enquanto os contratos não forem assinados, não há prazos para a conclusão das obras. 

Soares, que assumiu a pasta em junho, em entrevista ao Primeira Edição disse que esses primeiros meses como secretário tem se dedicado ao planejamento. “Esse ano a gente assumiu e o teto começou a cair, passamos a ter série de dificuldades não previstas e sentimos a necessidade de repensar a estrutura de educação. Planejar o futuro e trabalhar com metas, pensando em resultado”.
 

Ações da Secretaria de Estado 


Adriano Soares faz um resumo sobre as ações da secretaria neste ano. “Começamos a fazer licitações e contratos para organizar a questão de transporte. Não é pouca coisa. A educação é um mundo. Vamos reduzir custos fazendo compras para o ano todo. Chegaram computadores novos, mas não adianta novos computadores se não há rede elétrica adequada; em 2011 trabalhamos todas as dificuldades e planejamos 2012, 2013 e 2014. Os frutos já começam a aparecer, como a matricula online. Estamos informatizando toda a matrícula para depois universalizarmos para toda a rede. Já começamos a ter acompanhamento dos alunos. A pretensão é que em 2012, todas as escolas estejam informatizadas e começaremos a combater a evasão escolar”.
 

“Fábrica de analfabetos”

Quanto ao alto índice de analfabetismo, Soares disse que o combate deve ser feito em duas frentes: com trabalhos voltados para os analfabetos que já existem e com ações que acabem com a “fábrica do analfabetismo”. Para isso, o secretário explica é necessário “melhorar a rede pública de ensino, combater evasão escolar, oferecer melhor número de vagas, fazer com que os alunos não passem pela rede pública sem aprender a ler e escrever”.
 

Violência e Ronda escolar

Primeira Edição/Arquivo

Em relação à violência, o secretário revela que, a partir do ano que vem a Secretaria em parceria com a Defesa Social, irá lançar a ronda escolar. A educação disponibilizará 30 veículos que serão divididos por regiões já definidas. Eles ficarão nas proximidades de cinco escolas estaduais.

“Com isso, pretendemos diminuir as situações de risco da violência advinda de situações exteriores”. 
 
 
Investimentos

Para a sindicalista, Célia Capristano, educação de qualidade só se faz com investimento. O secretário discorda afirmando que o maior problema é a falta de gestão. “Precisamos de política pedagógica mais uniformizada; metas a serem cumpridas e premiar isso. Não adianta investimentos aleatórios. Se aplicados sem planejamento os resultados serão pífios. Temos exemplos disso”.
 

Publicidade nos fardamentos

Bastante discutida este ano foi a polêmica lei nº 7.288 , aprovada pela Assembleia Legislativa de Alagoas, segundo a qual o governo poderá "incrementar a inscrição do nome ou marca de empresas patrocinadoras, nos uniformes dos alunos da rede de educação básica do Estado de Alagoas".

O Sinteal já se posicionou contra. “A iniciativa privada não vai investir sem fazer disso uma moeda de troca. O governo é que tem que assumir a educação de forma integral, seja no mobiliário, fardamento”, disse a presidente do Sinteal Adriano Soares disse que isso ainda não foi decidido se a SEE irá se fazer valer da lei, mas garantiu que em 2012 não será implentada. 

“Tenho também minhas reservas. Não vamos transformar alunos em outdoor. Ano que vem vamos discutir com a sociedade, com o conselho escolar, Ministério Público e formar uma ideia e ver o que seria melhor. Se entendermos que isso viola a dignidade dos estudantes e que pedagogicamente é um equívoco, não será implementado”.
 

Planos para 2012

O secretário Adriano Soares afirma que seu plano de trabalho vai até 2014 e que tentará melhorar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). “É um grande desafio. Se conseguir isso teremos a base pronta para dar grande salto para que 2013 e 2014 sejam anos de recuperação do Ideb”.
 

Educação de qualidade – uma dívida com os alagoanos

Questionado sobre como quer marcar sua gestão, Adriano responde que gostaria de ter resultados melhores da educação. “Se tiver avançado em termo de planejamento e resultados eu me dou por satisfeito. Um grande colégio é bom, mas seria melhor se conseguíssemos grandes mulheres, grandes homens a partir de uma educação de qualidade. Essa é uma dívida que o estado tem com os alagoanos. Precisamos começar a pagar essa dívida”, conclui ele.

Fonte: Primeira Edição

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